04 junho 2014

Entrevista com o Tolu

Stud Figuron & VarandaO treinador fala sobre o comércio e trânsito do PSI brasileiro

Em conversa com o Marcelo Augusto, este me falou que não se conformava com o alto índice de vendas para o exterior do PSI brasileiro, que não se concretizam. Perguntou-me se saberia o motivo. Eu não sabia, mas lembrei de alguém que poderia nos explicar melhor todo esse imbróglio: Antonio Luiz Cintra Pereira.  Tolu (apelido pelo qual todos o conhecem) é renomado veterinário e treinador, várias vezes campeão de Estatísticas em Cidade Jardim, e que já teve uma boa experiência em levar e vender cavalos para correr  no exterior.  Abaixo está a entrevista que fiz com ele, a quem deixo meus agradecimentos pela gentileza de dispor seu tempo com o nosso blog.


1- Quais são as doenças e problemas que embargam o comércio do PSI brasileiro para o exterior?


As duas principais doenças que impedem a exportação do cavalo brasileiro são: Piroplasmose e Mormo. A Piroplasmose limita a exportação  para países como USA, Austrália, Argentina e Chile. O Mormo nos tira fora de mercados como Europa e Oriente Médio.



2- Que medidas os setores que legislam sobre o turfe poderiam tomar para que o Mormo fosse extinto do Brasil?

Os orgãos que legislam o turfe só podem tomar atitudes no que se refere ao controle do Mormo no PSI, e essas providências já foram tomadas e seguidas a risca, que é a exigência do exame de Mormo para todos os PSI que transitam pelo Brasil. Para que um PSI transite é necessário uma GTA ( Guia de Trânsito Animal). Para se conseguir uma GTA, anteriormente era necessário apenas um exame de AIE (Anemia Infecciosa Equina), hoje é obrigatório o exame de Mormo, também. Lembro que o exame de Mormo dura sessenta dias. Exemplo, os cavalos de Centro de Treinamento que correm em Cidade Jardim ou Gávea, fazem exame de Mormo a cada sessenta dias, pois para irem correr é necessário a GTA.
Mas o problema do Mormo no Brasil não é no PSI, é em muares e outras raças. É uma doença endêmica, localizada mais no Norte e Nordeste do Brasil, onde se transita animais sem nenhuma responsabilidade, entre elas o exame de Mormo.
O controle pela erradicação da doença só poderia ser feito pelo Ministério da Agricultura, mapeando a doença, exigindo o exame de Mormo para emissão de GTA e fazendo barreiras nas estradas para o controle dessa documentação. Também deveria fazer visitas e exames em criatórios que estejam dentro do local mapeado.
Também deve haver uma conscientização dos Veterinários para a gravidade do problema, pois sabemos que muitos exames são falsificados, ou que o sangue é coletado de animais sadios.



3- Quais seriam as ideias que você poderia dar para incrementar o comércio exterior, bem como fazer com que vendas já em fase adiantadas de negociação, tivessem seu desfecho de forma positiva. São altos os índices de negócios que não se concretizam.

Para se incrementar o comércio exterior, a primeira coisa é fazer o protocolo sanitário entre o Brasil e os países  em que ainda não há esse protocolo. O protocolo sanitário é um documento firmado entre dois países, em que se viabiliza a ida e vinda de animais entre eles. Exemplo: a Ásia é hoje um dos melhores mercados do Exterior para se vender cavalos, no entanto, o Brasil só tem protocolo com os Emirados Árabes, assim, nenhum cavalo brasileiro pode ir hoje para Malásia, Singapura ou Hong Kong, de forma direta e por isso, eles não vêm atrás do cavalo brasileiro.
Outra possibilidade em nível de autoridades, seria a viabilização de uma quarentena no Brasil. Seria um local, reconhecido pelas autoridades dos outros países, livre de qualquer doença, ambiente totalmente controlado onde o cavalo passasse um período antes da viagem marcada.
Mais uma providência, em nível de Associação Brasileira de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida, seria a divulgação das corridas de cavalos do Brasil em simulcastings internacionais, e divulgação em TVs e revistas das principais provas brasileiras.
Quanto ao desfecho negativo nas negociações, são três as principais razões. A primeira seria a erradicação do Mormo e Piroplasmose, o que hoje é difícil ou quase impossível de acontecer. A segunda seria o alto preço pedido pelos proprietários brasileiros, preços que não condizem com o mercado exterior. Finalmente, a presença de alguma lesão no animal em questão, na qual o comprador julgue ser um risco, neste caso não há nada que se possa fazer e é comum no mundo todo isso acontecer.


4- Saindo do comércio e entrando no trânsito dos nosso animais, sabemos que, para citar um exemplo, as portas da Dubai World Cup estão fechadas para cavalos que atuam no Brasil desde 2011? O que podemos fazer? A solução seria a mesma das vendas ao exterior, ou há pontos a acrescentar?

Para solucionar esse problema, só resolvendo a situação do Mormo no Brasil, pois o protocolo entre o Brasil e os Emirados Árabes existe, mas pela presença do Mormo, a entrada não é permitida, a não ser que o cavalo brasileiro siga para outro país onde não haja barreira para ele e que tenha o protocolo com os Emirados Árabes. Aí bastaria ficar trinta dias neste local e o trânsito estaria liberado. O grande problema dessa via de acesso aos Emirados Árabes é manter o estado atlético desse cavalo durante esses trinta dias de quarentena em outro país.

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