24 abril 2012

1950 – ZONZO, o cavalo bomba


Por Olavo Rosa Filho

Naquele ano, o GP São Paulo foi brindado com a apresentação de Swallow Tail, inglês filho de Bois Roussel e Schiaparelli, que era da farda Preta e boné branco, do importantíssimo Lord Derby , farda igual ao do Dr. Paulo José da Costa, aqui de SP: havia vencido o King Edward VII Stakes e em 1949 fez terceiro a pescoço para Nimbus e Amour Drake, no Derby de Epsom. Foi uma corrida sensacional (veja abaixo, como curiosidade), onde ele e Nimbus brigaram mano a mano durante os 2400m, perdendo o 2º em cima do laço.




A Família Peixoto de Castro, que detinha “somente” a concessão das Loterias no
Brasil, precisava de um reprodutor de nome para servir no Haras Mondesir e foram buscar exatamente este Swallow Tail para cobrir por estas praias. O negócio atingiu valores astronômicos para a época.

Como um presente ao público paulista, acordaram a inscrição no GP São Paulo daquele ano, logo depois da corrida o cavalo ingressaria na reprodução. Até jóquei da França veio, chamava-se Marcel L’Ollierou.

Os outros, coitados, eram meros figurantes, parecia uma exibição da realeza contra
um bando de plebeus das colônias. Entre esses plebeus havia um cavalo uruguaio,
Zonzo, filho de Mazarino e Zonza, filiação inexpressiva, corrido apenas na areia
de Maronãs, comprado um mês antes pelo Sr. Azem Abib Azem, comerciante, industrial e ferrenho turfista paulista. Dizem que só ele jogava 10% do movimento de Cidade Jardim.

A revista Turfe e Elegância, nos comentários da prova,de um falava "a maravilha inglesa", de outro, "muito modesto, não pode aspirar a nada".

Largaram! Swallow Tail na ponta, a galope. Na primeira passagem pelo disco, L’Ollierou girava o chicote como uma ventarola, o público delirava, Zonzo corria último. Entram na reta, Swallow Tail na frente, mas já sem o mesmo ritmo. Zonzo começa a atropelar por fora, vai passando um a um todos os competidores, domina Swallow Tail e ganha por um corpo, sob o silêncio da multidão. Pagou só 10 por 1, dizem que o seu dono jogou um banco.




Swallow Tail foi para a reprodução, sendo um dos mais importantes da história,
como pai e avô materno. Dentre seus filhos destacaram-se Timão (tríplice coroa)
Ulemá, Urgência, Xerez, Zaga, Zarza, Atramo, Diese, Fiapo e Cajado (ganhador
da milha internacional em San Isidro).

Marcel L’Ollierou voltou para a França e, tempos depois, encerrou a carreira,
nunca mais foi o mesmo.

Passaram-se quase dois anos e Zonzo correu umas seis vezes, não conseguia fazer placê, sempre favorito. Até que foi inscrito num forte handicap, onde havia um favorito de 10, Pewtter Platter, também inglês, com campanha clássica na Europa, descendente do chefe de raça Hyperion, filho de Owen Tudor (pai de Elpenor) e Jennydang, uma barbada.

Largaram! Pewtter Platter na frente fácil, Zonzo em último. Entram na reta,
Pewtter Platter a galope, 5 corpos na frente , o jóquei só espanando. De repente, Zonzo dá uma partida de 200m, passa todo mundo e ganha de Pewtter Platter por focinho, sob o silêncio da multidão. O filme se repetia.



Pewtter Platter foi grande reprodutor e avô materno, pai de Juleda (grande
campeã), Flat Foot, Gleda, Inch, Jelante, Packard, Rioko, Under, Unino.

Olavo Rosa, jóquei de Pewtter Platter, tomou uma suspensão de 90 dias por negligência e por causa disso não pode montar Gualicho nas suas 4 primeiras corridas em SP.

O Tio Azem, como era conhecido, jogava muito mesmo, foi perdendo muito dinheiro, não teve mais nenhum cavalo bom, mas seu último passeio foi no Jockey.

Zonzo não correu mais, não teve nenhum filho de valor, ganhou só duas corridas, atrapalhou a campanha de dois cavalos importantíssimos e quase arruína a vida de dois jóqueis, um verdadeiro CAVALO BOMBA.

As fotos são GP São Paulo de 1950, do handicap em dezembro de 1951,
obtidas no Museu do Turfe.
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