26 agosto 2015

Um simples cantador das coisas do porão

Desde cedo, ouvindo mil vezes aquele disco "Alucinação", Belchior entrou na minha lista dos mais mais e nunca mais saiu de lá, mesmo sem compor há muito tempo. Letrista de mão cheia, aliou esse saber poético com canções de fácil assimilação , criando vários hits que explodiram nas rádios do País. Mas isso foi quando "Ainda Havia Galos, Noites e Quintais".
Lanço neste momento, não a campanha chula e sem respeito pelo  grande compositor, "Aonde está Belchior?" e sim a que clama por suas melodias: "VOLTA BELCHIOR" você faz falta...

Deixo abaixo uma de suas composições certamente não das mais badaladas, CONHEÇO O MEU LUGAR. Também deixo uma interpretação para Galos Noites e Quintais, de vejam só, Chico Anisio no Bem Brasil. Belchior estava presente e não conseguiu conter as lágrimas.









Conheço o Meu Lugar

O que é que pode fazer o homem comum
Neste presente instante senão sangrar?
Tentar inaugurar
A vida comovida
Inteiramente livre e triunfante?

O que é que eu posso fazer
Com a minha juventude
Quando a máxima saúde hoje
É pretender usar a voz?

O que é que eu posso fazer
Um simples cantador das coisas do porão?
Deus fez os cães da rua pra morder vocês
Que sob a luz da lua
Os tratam como gente - é claro! - aos pontapés

Era uma vez um homem e o seu tempo
Botas de sangue nas roupas de lorca
Olho de frente a cara do presente e sei
Que vou ouvir a mesma história porca
Não há motivo para festa: Ora esta!
Eu não sei rir à toa!

Fique você com a mente positiva
Que eu quero é a voz ativa (ela é que é uma boa!)
Pois sou uma pessoa.
Esta é minha canoa: Eu nela embarco.
Eu sou pessoa!
A palavra "pessoa" hoje não soa bem
Pouco me importa!

Não! Você não me impediu de ser feliz!
Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!
Ninguém é gente!
Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!

Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem: Conheço o meu lugar!




Galos Noites e Quintais

Quando eu não tinha o olhar lacrimoso,
que hoje eu trago e tenho;
Quando adoçava meu pranto e meu sono,
no bagaço de cana do engenho;
Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus,
fazendo eu mesmo o meu caminho,
por entre as fileiras do milho verde
que ondeia, com saudade do verde marinho:

Eu era alegre como um rio,
um bicho, um bando de pardais;
Como um galo, quando havia...
quando havia galos, noites e quintais.
Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo
o mal que a força sempre faz.
Não sou feliz, mas não sou mudo:
hoje eu canto muito mais

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