01 agosto 2012

Grande Premio Brasil 1933: Mossoró, um herói brasileiro

 Por Olavo Rosa Filho

 O Hipódromo da Gávea foi fundado em 1926, graça a iniciativa de turfistas liderados por Linneu de Paula Machado, empresario paulista. Imaginou, dirigiu e deu até   apoio financeiro para sua construção. Linneu havia vivido e estudado na França, de onde trouxe a paixão pelo turfe. Como tinha muito potencial, possuidor de grandes áreas, montou o importantíssimo Haras São José & Expedictus, no município de Rio Claro, SP, de onde em quase 100 anos saíram os maiores cracks do turfe brasileiro.

Linneu de Paula Machado


 O hipódromo foi construído obedecendo as mais modernas concepções da época, com pista de grama (até então não existia na América do Sul), com projeto de autoria do arquiteto Francisco Couchet, que soube combinar o estilo Luis XV com a belíssima cidade do Rio de Janeiro, próximo ao Corcovado, Lagoa Rodrigo de Freitas, Pedra da Gávea,  Jardim Botânico.

 Após seis anos de funcionamento, faltava a realização do grande espetáculo, algo que chamasse a atenção de todo o país, e como não, do mundo inteiro. Na visão de Linneu,  era a chance para o belo hipódromo sair, em jornais, revistas, cinema, pelo mundo afora.

Para isso se mobilizou toda a coletividade turfística, dirigentes, criadores, proprietários, profissionais, imprensa, ninguém queria ficar fora deste evento histórico.

 Frederico Lundgren foi um imigrante sueco que trouxe o conhecimento de indústria e comércio de tecidos, com grande visão empresarial, montou um conglomerado de lojas, as Casas Pernambucanas, que tinha centenas de filiais pelo Brasil, mais até que o atual Pão de Açúcar, por exemplo.

Frederico Lundgren


Trouxe igualmente da Europa o gosto pelo turfe, adquiriu alguns animais, que corriam com sua farda ouro e azul e montou um pequeno haras no interior de Pernambuco, o Haras Maranguape, onde nasceu Mossoró, filho de Kitchner e Galathea, nacionais, sem nenhuma fama.

 Mossoró foi criado no agreste, comendo grama e milho, de vez em quando uma ração. Não parecia um puro sangue, tinha orelhas de abano, pescoçudo, ancas de burro, mas como disse Euclydes da Cunha "o sertanejo é antes de tudo um forte" e Mossoró era  forte mesmo, corria muito, ganhou várias provas, inclusive o 16 de julho, 15 dias antes do Brasil, mas com um campo pequeno, onde não estavam as feras guardadas para a grande prova, muitos deles importados até um ano antes.      

Mossoró: grande, feio e forte

Mas corredor fora de série. Aqui, vencendo o 16 de Julho.


 Voltando ao GP Brasil, foram inscritos 38 cavalos, só a farda do Linneu tinha 7 inscritos  (seis no nome dele e um no do cunhado), no fim só poderiam correr 22, alguns forfaits naturais aconteceram e depois houve uma seleção, que não foi fácil, como dissemos, ninguém queria perder a chance de ter sua farda eternizada na foto dos jóqueis.



Correram como principais nomes:
Mossoró (já comentado) com seu faixa Caicó, ambos nacionais ,  Frederico Lundgren. Myrthée e Bosphore (França) , Linneu de Paula Machado .
Big Ideal (França) , Guilherme   Guinle.
Importados especialmente para correr o GP Brasil:     
Violator (Inglaterra) Stud E. & A. Assumpção (São Paulo).
Origan (Argentina)  Stud Seabra em parelha com  Arranha Ceo ( Uruguai).    
Farisco (Uruguai), C. Pinto Coelho.   
Sueño Largo (Argentina)  Peixoto de Castro, em parelha com Bambu Uruguai).
Com campanha no Brasil e no exterior:
Soneto (Argentina), J.C. de Figueiredo.
 Belfort (Argentina),  Rubem Noronha.

Vários jóqueis vieram de S.Paulo (B.Garrido, T.Batista, L. Gonzales, C. Fernandes, E.Gonçalves, J.Canales).

  No dia da corrida a Gávea recebeu um público maior do que o futebol, dizem 25.000 pessoas, no tempo em que o Rio de Janeiro não tinha um milhão de habitantes. A ideia geral era que ganharia um estrangeiro, porque dos nacionais só Mossoró tinha alguma chance. Dele faziam até piada, imagine um imigrante nordestino ganhar daqueles europeus!

 LARGARAM ! Padishah foi para ponta até os 1.600m, onde apareceu Myrthée  fazendo corrida para seu companheiro Bosphore, Mossoró corria no pelotão do  meio, sem animar muito. Ao entrarem na reta, Myrthée cansou, Caicó, faixa de  Mossoró se apresenta, mas já tem a seu lado Belfort e Bambu. Belfort domina  nos 300m, e nesse ponto Mossoró sai de oitavo, arranca, emparelha com  Belfort nas pedras, domina e ganha por meio corpo.

 Quando Mossoró iniciou sua atropelada, um sentimento de brasileirismo
tomou conta de todos que lá estavam, até quem não tinha jogado nele torceu.
Ouviu-se aquele barulho de torcida, que dava para ouvir até na Zona Norte e
quando cruzaram o disco, o prado veio abaixo. 
 
Largada!  
 
Entrando pela Curva Do Relógio
 
A reta de frente
 
 
 
 
Mossoró, J. Mesquita, Eulogio Morgado, Frederico Lundgren, Haras Maranguape
tiveram seus nomes imortalizados. Pelo fato de Mossoró ser brasileiro, o seu nome
correu o Brasil inteiro, especialmente no nordeste, até o mais humilde ouvia e
repetia que um nordestino tinha ganhado do mundo "tudinho".
 
 O turfe passou a ser mais conhecido, a Gávea foi vista nas publicações de turfe
na América e na Europa, assim como sonhara Linneu, que não ganhou, mas teve
o orgulho de ver o seu sonho ser perpetuado, este ano se comemora 80 anos.
Linneu ganhou o GP Brasil com Six Avril em 1939, antes do acidente aéreo que
causou sua morte, mas lá de cima viu Heliaco, Albatroz, Itajara, Siphon e muitos
mais. 


 Matéria pesquisada e obtida no Museu do Turfe (SP) com   a colaboração do funcionário Nani Claro da Costa, a quem agradeço.

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