23 setembro 2014

Borges


 El Aragones
 
 
Sobre Jorge Luis Borges
Talvez o melhor tradutor de Borges, Norman Thomas Di Giovanni, acaba de lançar um livro intitulado Georgie & Elsa, no qual relata os 3 anos em que Borges esteve casado com sua primeira mulher, Elsa Astete Millán. Dentre algumas revelações interessantes está a de que o escritor saiu de casa um dia para o trabalho e jamais voltou, segundo ele porque Elsa se imiscuía em seus assuntos particulares, tentava violar sua correspondência, não tinha o menor interesse em sua obra literária, apenas no resultado pecuniário da mesma e detestava seus amigos e familiares. Di Giovanni conta, também, que uma noite, em 1969, foi com Borges e Elsa jantar na casa de Rodman Rockefeller, filho do então governador  Nelson Rockefeller e, quando chegaram, Elsa sacou de uma pequena Kodak e fotografou todas as dependências da casa, inclusive os banheiros, no que um dos convidados perguntou a Di Giovanni aonde Borges teria arranjado aquele horror de mulher ( ainda não se tinha o detestável hábito de fotografar qualquer coisa, inclusive pratos de comida ).
Assim, se você tem interesse na polemica vida pessoal do grande escritor argentino ou, por qualquer motivo, tem uma mulher como Elsa, já há um caminho a seguir.


2 comentários:

  1. Meu caro El Aragones,

    Admiro essa sua capacidade de perscrutar a cultura argentina, muito além das patas dos cavalos.
    Borges tinha pinta de ser um "chato de galocha". Frustrado nos amores juvenis, e influenciado por sua mãe, a quem obedecia passivamente, acabou se casando com Elza, quando já era quase setentão. Esta, então, já era "prá lá de cinquentona". Deu no que deu, pule de 0,10: foi um curto casamento, que terminou logo depois da morte da matriarca, metida a dona da verdade até os 99 anos.
    E vem agora essa "revelação" de que Borges um dia saiu para o trabalho e nunca mais voltou. No Brasil é famosa a lenda de um turfista que dá uma tacada, avisa a mulher que vai à padaria buscar pão e não aparece nunca mais. Olavinho Rosa deve lembrar.
    Voltando a Buenos Aires, Elza também não ficava nada a dever ao escritor em matéria de chatice, como demonstra sua citação do livro do tradutor. Ciumenta, também não tolerava a presença de outras mulheres no ambiente doméstico. A exceção foi Maria Kodama, ex-aluna de Borges na Universidade de Buenos Aires, 38 anos mais nova que ele e que se comprazia em funcionar como sua "secretária". Com essa nissei, por ironia do destino, Borges veio a se relacionar em seguida, união que perdurou até sua morte, em 1986, na Suiça. Com ela se casou, pouco antes do desaparecimento, tendo inclusive a tornado sua herdeira.
    Nas centenas de biografias e referências biográficas detalhadas sobre a obra e a vida pessoal de Jorge Luis Borges, entre elas uma escrita por sua governanta Epifanía Uveda (Fanny), Elza Astete ocupa papel secundário.

    Algumas coisas chamam a atenção em seu novelesco post, querido amigo Aragones.
    Seu último e provocante parágrafo, ardilosamente escrito, incita o leitor aqui do Blog do Aron a primeiro investigar a vida pessoal do famoso escritor e depois disso aproveitar o exemplo borginiano do "caminho a seguir", caso tenha uma esposa parecida com Elza Astate.
    Inevitavelmente surgem perguntas e conjecturas:

    -Jorge trabalhava fora, nessa "chance" para fugir?
    - Para onde foi, quando fugiu de Elza? Instalou-se no Hipódromo de Palermo, perto de onde morou, quando não esteve nas microcentrais Tucuman ou Maipú? Ou teria ido visitar um velho amigo em São Paulo, alí nas proximidades da Universidade Católica das Perdizes?
    - No livro escrito por sua fiel servidora Fanny (El Senor Borges) consta que ao viajar para Genebra teria dito a ela, nos dias que precederam a partida:"Eu não quero ir Fanny, porque se for vou morrer longe". Ou seja, o cidadão sabia muito bem onde estava enfiando o nariz, mesmo que fosse para morrer.
    - Fanny na época do lançamento de seu livro, em 2004, disse em entrevista que "achava que o patrão teria morrido virgem", embora tenha relatado em seus escritos inúmeros romances, entre eles o ocorrido com Viviana Aguilar, mulher muito bonita a quem o escritor teria dedicado seu poema "Al olvidar un Sueño".

    Sobre seguir o exemplo de Borges e fugir do casamento, no meu caso pessoal tenho a ponderar que a única semelhança com a vida desse notável é a idade cronológica dos cônjuges (pouco menos de setenta no meu caso e pouco mais de cinquenta no caso da minha mulher). No mais nada a ver. Não tenho um milésimo do talento do cidadão. Meu resultado pecuniário aproxima-se celeremente do Zero. E se algum parente do Rockfeller me convidar para jantar, prazerosamente direi que já tenho compromisso. Além disso, Nilma, minha mulher não gosta de usar celular nem para telefonar, quanto mais para tirar foto de cômodos domésticos ou de pratos de jantar.
    Em tempo: essa de morrer virgem também nunca deu para encarar.

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    1. Caro Laércio,
      Fico feliz em saber de seu interesse pelo grande Jorge Luis Borges, autor da obra prima "O Aleph". Mais feliz ainda em fazer com que você reapareça depois de um breve sumiço. Respondendo a uma das suas indagações, a única que me pareceu séria, digo que Borges, na época em que fugiu de casa para nunca mais voltar, trabalhava na Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Aproveito a chance para acrescentar um fato verídico sobre a avó de Borges, que adoeceu de pneumonia em 1918, em Genebra. Estavam todos os familiares reunidos em volta de sua cama, desesperados, chorosos, enquanto a pobre senhora tremia de frio e , às vezes, perdia a consciência. E lá estavam sem saber o que dizer ou fazer quando, num raro momento de lucidez, a avó abriu os olhos e , com voz sumida, mas de forma clara falou:" Déjenme morir tranquila, carajo!". E pode então morrer em paz.

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