08 março 2015

O Turfe Que eu Vivi

Stud Figuron & Varanda Por Olavo Rosa Filho

Pules e Acumuladas

Nasci no Rio de Janeiro, e conforme minha mãe contava, eu ia no jóquei dentro dela, antes de nascer e o meu primeiro passeio, com direito a carrinho, chupeta e gorrinho foi no Hipódromo da Gávea, talvez por isso eu até hoje

carrego esta paixão.

Mudamos para São Paulo em fins 44 e fomos morar rua Miragaia, a 300m

do portão da Vila Hípica, essa proximidade, fazia com que eu acompanhasse

o turfe desde muito pequeno e todos os fatos aqui narrados são da minha

memória.

As poules eram impressas, vencedor, placê e dupla, tinham um fundo

colorido, amarelo, rosa e verde, e algumas marcas de segurança, mas

se houvesse impressoras de hoje naquele tempo, seria a coisa mais fácil

de fraudar, todavia até o início dos anos 70, quando foram implantadas a

maquinas de aposta, nunca houve caso de falsificação. Muita gente guardava

uma de lembrança de um Grande Premio, de um passeio com a noiva, de um

aniversario. Quando corria um páreo, milhares delas eram arremessadas ao

chão e havia funcionários com um espeto de metal, que pacientemente iam

recolhendo aqueles papeizinhos coloridos.

As acumuladas, instituídas nos anos 30/40 pelo presidente Herculano de

Freitas, eram feitas a mão, com funcionários que tinham uma letra bem bonita,

em 3 cópias com carbono. Havia também mensageiros com uma prancheta

onde eram colocadas as poules daquele páreo e eles as vendiam aos sócios

nas mesas, sempre eles. Havia a necessidade de prever quanto seria vendido

para cada cavalo, saber quais seriam os favoritos, e tinha gente que fazia isso

com perfeição, mesmo em dia de Grande Premio era difícil o uso de poules

extras.

Os jóqueis faziam o cânter e voltavam para a Sala, onde esperavam ordem

de montar para a largada, que era feita com fita, não havia partidor. Nesse 10

ou 15 minutos, todo o movimento era calculado a mão, não havia totalizador, e

com muita precisão, a diferença entre um páreo e outro era de 40 minutos OU

MAIS e ninguém reclamava.

Os funcionários que vendiam e pagavam poules e acumuladas tinham

conhecimento de turfe, sabiam o que estavam vendendo, conheciam os cavalos,

jóqueis, treinadores, muitos deles trabalhavam com a revista Turf & Elegância,

depois O Coruja, junto ao guichê e trocavam opiniões com os apostadores,

tinha um que se chamava Waldemar, que era o mais procurado por gente que

queria saber os palpites dele. um verdadeiro catedrático.

Como dizia Chico Buarque, “e para meu desencanto a coisa doce acabou”

e hoje temos totalizador, CPD, internet, simulcasting, race day, workouts,

MGA (menos gente apostando), agências, apostas on line, mas turfista acabou,

menos nós que resistiremos até o ultimo combatente.

Um comentário:

  1. Ser saudosista é apenas preferir os bons tempos dos ruins. Entendo você perfeitamente Olavinho e respeito muito suas lembranças. Que você possa mantê-las por muito tempo.

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