
Encontrei este texto de Mário Lopomo na internet. Tudo nele é real, menos a narração do páreo, onde os cavalos foram escolhidos a dedo. Gostei, embora não tenha vivido a época, acho que quem presenciou vai apreciar bem mais. De quebra ponho a foto em que El Aragones vence Joiosa, o GP Brasil de 54 (uma pequena homenagem a um leitor nosso).
Em 1950, meu pai ia todos os domingos na Quitandinha, sede do Jóquei Clube (Rua Boa Vista) fazer suas acumuladas para as corridas de cavalos que aconteciam nas tardes de domingo. Chegava em casa com calhamaços de poules e um programa do Jóquei, com todos os páreos a serem corridos. Como ele ia à tarde, trabalhar na Ximbica (agência clandestina de apostas do Jóquei), eu era encarregado de marcar o resultado de todos os páreos de Cidade Jardim, para ele conferir a noite. Para isso eu ligava na rádio Excelsior que era a única emissora que transmitia as corridas de cavalos (abro esse parêntese para dizer que a idéia de transmitir as corridas de cavalos do Jóquei Clube, foi do radialista Fausto Macedo, que se transformou também em comentarista do esporte das rédeas. Alias tive o prazer de ser seu colega de trabalho na Radio Bandeirantes anos 60-70, quando ele era chefe da discoteca da radio, e diretor artístico interino (1971) após a morte do diretor Clodoaldo José).
Fausto Macedo tinha um cunhado que freqüentava o Prado. Um dia ele telefonou para a radio e disse ao Fausto:
-Olha correu um páreo aqui em Cidade Jardim, você não quer divulgar ai na rádio? Fausto gostou tanto da idéia que passou a dar todos os domingos resultados dos páreos que já tinham corrido. Daí é que surgiu a idéia de fazer a transmissão do Turfe.
Para fazer a narração dos páreos foi chamado Vicente Chieregatti.
Vicente Chieregatti era datiloscopista, do instituto de identificação policial, ali na Rua Quirino de Andrade. E para falar a verdade, nem sei como ele foi guindado a essa tarefa de transmitir corridas de cavalos.
Na verdade eu gostava mesmo era de ouvir o futebol, a transmissão de Pedro Luiz, na rádio Pan Americana. Para minha sorte os 620 Kilociclos da Pan, ficava bem próximo dos 670 da Excelsior. Era só uma giradinha no botão, daquele rádio "rabo quente" (radio a válvula) da marca GE. Das 14h as 16, somente o Turfe eu ouvia, mas na hora que começava o jogo, ia alternado, Turfe e futebol, sempre de olho no relógio para não perder a hora de correr o páreo.
A transmissão de Turfe era patrocinada por uma companhia de teatro, e tinha uma fita gravada por um cronista de Turfe do Rio de Janeiro, Teófilo de Vasconcelos. A cada chamada do locutor de estúdio para Cidade Jardim entrava aquela fita gravada, que era mais ou menos assim:
Amigo ouvinte, turfista, deee São Paauulo. Vejam hoje e amanhã, teatro Leopoldo Froeeess. Gozadíssima comédia, intitulada EU AMO A SUA MÃE. Com "Walmor Chagas e Cacilda Becker" (título e atores fictícios).
Locutor de estúdio: A radio Excelsior volta a falar de Cidade Jardim, na palavra de Vicente Chieregatti.
- Turfista amigo, vai ser corrido o quinto páreo do programa, Grande Prêmio Oswaldo Aranha, seletiva para o Grande Prêmio São Paulo a ser corrido em maio neste ano da graça de 1954. Os animais vão se encaminhando para a fita de largada. Primeiro a

(*) Mário Lopomo, é editor do blog mlopomoblogesporte.zip.net

Aron,
ResponderExcluirmuito bonita essa história.
Voce sabia que o citado Roberto Olguin era meu avó?
E que ele foi um grande joquei chileno que montou, entre outros lugares, em Nova York e Cidade Jardim? e que seus maiores amigos eram seus compatriotas Pancho Yrigoyen e Juan Marchant?
e que meu avö morreu em 1960 num acidente durante um pareo em Cidade Jardim?
Beth,
ResponderExcluirSabia de quase tudo, mas os detalhes quem sabe é você. Quem sabe uma próxima postagem "recordar é viver" não é de sua autoria?
Vicente Chieregatti era meu avô...saudades dele
ResponderExcluirAbraços
Flávio Chieregatti
Que beleza de artigo! Bons tempos! A magia do turfe e os detalhes da carreira mostram a emoção de cada participante, seja treinador, joquei, narrador, proprietário e o turfista torcedor/apostador. E ainda é assim, embora a complexidade esteja presente na falta de confiança dos profissionais entre si e particularmente do turfista para com o esporte do reis. Qualquer resultado que não atenda suas expectativas é colocado com desconfiança, corrupção e má direção do profissional. Hoje em dia não há mais o respeito para com o outro. Todos roubam, todos são desonestos desde o cavalariço até a Comissão de Corridas.
ResponderExcluirAntigamente podia haver peripécias, controversas direções e/ou inscrições, mas havia o beneplácito da dúvida. Era ontem, hoje é diferente, infelizmente. Ingenuidade talvez, mas, vivia-se com maior tranquilidade. É tão bom poder acreditar na boa fé alheia. É viver mais feliz, embora saiba que destruir é mais fácil do que construir. O individualismo supera o coletivo.
Forte abraço
Miranda Neto
Em tempo: comecei a frequentar o JCSP 10 anos depois do relatado.
Fausto Macedo, citado no texto, era de família de radialistas: Renato Macedo, mais velho deles, foi locutor da rádio dos diários associados nos anos de 1930. Transmitia notícias chegadas do "front" da revolução de 1932, apoiando os paulistas. Fausto começou como "crooner" de rádio e depois como produtor de rádio, trabalhando e produzindo diversos programas nas rádios São Paulo (depois vendida à Globo), Bandeirantes AM e finalmente na Cultura AM. Grande personalidade, de coração amável. Nos deixou em 2000,
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