16 abril 2009

Porque abandonei o Xadrez e como ressuscitei Nimzowitsch

Um conto sobre xadrez especialmente para os poucos enxadristas que de vez em quando passam por aqui:






Estamos na posição final da partida que me fez abandonar o xadrez. As pretas acabam de jogar seu peão a três Torre do Rei e o condutor das brancas, Saemisch, abandonou o jogo. O mais cruel e curioso é que o autor do lance final tinha seu primeiro nome idêntico ao meu.
A partir do momento em que vi esta partida, um problema, mais de ordem filosófica do que enxadrística, se apoderou do meu cérebro: se entre dois grande mestres destacados, em apenas 25 lances, e com quase todas as peças em jogo, o condutor das brancas se encontrou em zugzwang (palavra alemã que significa literalmente "quem joga perde" ), decididamente algo estava errado nas leis que regem o jogo.
Essa dúvida foi se avolumando e se transformou em aflição generalizada no momento em que me vi frente a frente com um adversário em um Torneio Aberto realizado no Clube de Xadrez de São Paulo. Para realizar o primeiro lance, conduzindo as peças brancas, demorei nada menos do que 30 minutos e passo a relatar aqui todos os pensamentos tortuosos, dignos de um demente, que impediam que eu efetuasse a primeira jogada. Aquele maldito zugzwang não saía da minha cabeça:

“Sentei em frente ao tabuleiro e tentei me tranquilizar, mas era inútil. Sem que nenhuma peça tivesse se movido, eu já me considerava perdido, procurava uma saída mas aquilo era um verdadeiro beco sem saída. Meu destino parecia traçado de antemão.
Tinha fortemente arraigado o dogma de Philidor, segundo o qual os peões são a alma do xadrez. Podem parecer pequenos e insignificantes, inclusive fáceis de sacrificar, mas determinam inexoravelmente o desenvolvimento da partida com a estrutura que apresentam. Perder um peão ou situá-lo em uma casa errada poderia me acarretar uma derrota acachapante. O mais dramático do xadrez é que ele não permite com que se retroceda com os peões.
Meditando sobre isto, voltei a contemplar a posição e reparei que, se avançasse qualquer um dos meus brancos peões, me expunha a toda classe de perigos. Avançar um peão supõe, por um lado, aproximá-lo das forças inimigas e, por outro, debilitar casas próprias, deixar buracos atrás de si. Cheguei a conclusão que não poderia avançar nenhum peão, até que meu rival o fizesse. E aí caiu um dogma universal do xadrez. Quem goza da vantagem inicial é o bando preto e não as peças brancas, pois as brancas estão obrigadas a avançar algo e consequentemente debilitar-se. Aos poucos foi se apoderando de mim a ideia de que mesmo sem ter feito lance, já me encontrava em zugzwang. Céus, quem inventou este jogo se assegurou de que não ficassem casas livres atrás das peças. À sua frente os peões infantes , atrás o abismo.
Súbito, me veio a solução! Meus cavalos, sempre eles, podiam galopar depressa e saltar os obstáculos mais altos sem estropear a falange de peões brancos e tendo em conta que a segurança do meu rei é o objetivo primordial do jogo (outro dogma quebrado), julguei conveniente aproximar dele justamente o que lhe estava mais distante e finalmente fiz meu primeiro lance: C3BD e olhando sadicamente para meu oponente pensei “ pode baixar o rei que agora você está perdido”.
Minha euforia não chegou a durar um minuto, pois meu adversário retrucou singelamente C3BD também, e retribuindo o mesmo olhar que eu lhe havia lançado momentos antes, se deleitou muito mais ao perceber que a minha euforia havia se transformado em pavor.
A tensão não poderia perdurar por mais tempo. Tinha feito apenas um lance e o esgotamento era como se tivesse jogando uma partida que passasse de cem lances. Com raiva pensei: “ se esse imitador de lance alheio tá pensando que pode transferir todo peso da evolução enxadrística para cima de mim, está muito enganado”. Já refeito do golpe, respondi com o único lance que , segundo meus critérios, não perderia: C1C.
Desnecessário dizer que a partida terminou em empate por repetição de jogadas e com todas as peças na posição inicial.”

Tanto eu, como quem comigo jogava, fomos eliminados sumariamente do Torneio, por prática antidesportiva e por total desrespeito com os demais participantes e com o público presente. Onde já se viu, empatar na posição inicial, significa mais ou menos, fazendo uma analogia com as corridas de cavalos, que todos os jóqueis puxem seus conduzidos e nenhum chegue ao disco.
Hoje, passado mais de 15 anos do fato, temo que tudo não tenha passado de uma alucinação, pois toda vez que tentei mencionar o ocorrido com enxadristas que estiveram presentes ao Torneio, ninguém lembrava nem da partida, nem do nome ou fisionomia do meu adversário. Era como se a partida não houvesse acontecido. Ao resgatar a planilha da partida, percebi com espanto que o tempo se encarregara de esmaecer por completo o nome do condutor das peças negras. Porém, no meu íntimo sei, que naquele dia, Aron Correa teve o prazer de jogar com Aron Nimzowitsch.
Por fim digo, que se é verdade o que afirma Borges no seu famoso poema El Golem, de que “nas letras de rosa está a rosa e na palavra Nilo está todo o Nilo”, infiro que os lances C3BD e C1C encerram em sí, toda a história de um jogo chamado xadrez.

* O texto em vermelho tem trechos adaptados do conto Zugswang de Joan Sánchez

9 comentários:

  1. genial,espetacular,a melhor postagem feita ate agora...sou suspeito para falar,porque gosto muuuito do boxe mental chamado xadrez,,,O PRINCIPE DA DINAMARCA,Aaron Nimzowitsch foi um dos maiores genios d todos os tempos,,,so´d jogar xadrez c esse genio,valeria a pena ter nascido.sou fã d BOB FISHER,q protagonizou a PARTIDA DO SECULO--CONTRA um MESTRE INTERNACIONAL DE XADREZ--BYRNE-1956-sacrificando a DAMA e dando mate 23-isso mesmo-23 lances depois,,,,quanto a PHILIDOR,discordo dele,pois os CAVALOS sao a alma do xadrez--tanto q a soluçao para não se criar debilidade c as brancas por ti,GRANDE MESTRE,ARON CORREA---FOI SAIR COM O CAVALO!!!!!!--mas o genial ALEKHINE q criou para mim o sistema mais dificil de se jogar,encorajando o avanço do peão das brancas,saindo com as pretas com C3br em resposta a P4R das brancas,,,talvez por isso ficastes com medo d abrir com peão,,,,POR ISSO DIGO E REPITO--OS CAVALOS SAO A ALMA DO XADREZ--DESCULPE-ME PHILIDOR--alias ,o MATE DE PHILIDOR JAMAIS SERIA POSSIVEL SEM O CAVALO!!!-GUSTAVO BOGOLJUBOW.-CAMPEAO MUNDIAL EM 1929 E 1934...PORQUE Alekhine não vale,era de outro planeta..aahahahah..

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  2. Outro dia li um comentário te aconselhando a mudar de área e preservar tua inteligência usando-a em outras coisas mais produtivas. De minha parte nem conhecia tua história no xadrez, mas hoje pesquisei o Google e vi quão longe vc já foi. Eu aqui entro procurando uma crava de bolo, sou turfista antigo e que tenho até vergonha de dar meu nome de tanto que já perdi no JCSP. Concordo em tudo com aquele comentário, vc é jovem e brilhante, mude rápido de área, o turfe nunca fez ninguém rico, pelo contrário, apenas destruição causou. Quer provas? nomes? aqui vão alguns desde que jogo e perderam cifras acima de US$2 milhões ao longo da vida. Pela faixa etária: Waldyr Troncoso Peres, Verde, Helio Azem, Ipauçu,Grisi, Walter Lopes da Silva, Tininho, Antonio Abujamra, Lourival Alves de Lima, Giancole, Carlos Ferraz, Maluf, Roberto Palura, Gerin, só pra citar alguns, além de mim é claro que não cito meu nome, mas tb já passei dessa cifra há anos. Dentre esses, vários morreram, outros desapareceram, alguns tiveram a sorte de parar e talvez somente dois ou três continuem a "sustentar"o JCSP. Vc conseguiria citar apenas 1 nome de alguém que enriqueceu no turfe? Não vale o Serafim Correa, tá? Esse não era turfista. Peça ajuda aos universitários e conclua que gente inteligente como vc deve procurar outro meio de vida. O turfe como jogo tende a ficar cada vez pior. Abraços.

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  3. o paradoxo do chumbo nos cavalos,,,pra se ter ide´ia d como eh complexo a analise de turfe,,,mais q xadrez,,,basta ver a influencia do chumbo no desmpenho d cavalos,,,comparando DAYLIGHT DANCER COM VIVA LU--MESMA DATA,evidentemente,mesma pista--GM-5,,,VIVA LU,COM 54 KILOS,FEZ 1-25-450....JA DAYLIGHT,COM 51,,,FEZ 1-24-552,,,,DIFERENÇA DE 0.898 SEG POR 3 KILOS--O Q DA 0,299333SEG--0.3 SEG POR UM KILO,PRA APROXIMAR....MAS COM OUTROS CAVALOS,,,A REGRA NÃO SE APLICA,,,fazendo uma projeção d quartel general,GM-9,em 8-3 ele faria 83,946seg os 1400m....o pradubai,87,43seg...mesmo terreno--GM-9....QUARTEL GENERAL C 56 KG,,,PRADUBAI,,,54KG,,,DIFERENÇA--2KILOS,,,--3,484 SEG,,,,LOGO 1KILO--DARIA 1,742SEG,,,,,DE VANTAGEM ,,,,,considerando os cavalos iguais,,,nessa analise,concluimos que eh matematicamente impossivel quartel general perder pro pradubai,pois meso com 2 kg a mais,faria 1400 em 1-23-946,em projeçao pelo 1300m de 8/3 GM-9....em comparação com 1-27-430,do pradubai,,,obviamente,o cavalo demora pra acelerar,logo a diferença seria ate maior,,,,pois a projeçao do pradubai eh de 1600m,o cavalo ta mais embalado,o quartel eh de 1300 p 14oo,,,logo--quartel general não perde pro pradubai....QUEM DISSE QUE NÃO HA CALCULO E CIENCIA NO TURFE!!!!!!GUSTAVO BOGOLJUBOW

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  4. Aron,
    Vc tem talento para ainda retomar sua carreira de enxadrista e conquistar seu título de MI para o qual faltou muito pouco. Ainda dá...
    Abraço,
    MI Resende

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  5. Grande Resende,

    Primeiro enxadrista de peso a visitar (ou melhor, postar) meu blog. Vou a São Paulo neste final de semana para o meu Torneio anual, o Interclubes. Apareça lá para batermos um papo.

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  6. Aron.
    No Rio chove desde ontem. Começou por volta das 23h não muito forte. Serras e Corcovado encobertos. Acredito que dure por mais dois dias. Resta saber como ficará a raia de grama depois de uns 20 dias de sol a pino com temperatura de 41º.

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  7. Concordo 100% com as manifestações a respeito do Samba na Gambos,programa que não perco um sequer há mais de seis meses.É de uma qualidade e bom gosto superior,com apresentação do filho do João Nogueira e seu sucedâneo Diogo Nogueira ex centro-avante do Cruzeiro de Porto Alegre.Nesse programa além de ouvir gente de qualidade conheci um grande sambista de raiz(turfista e filho de turfista)Leandro Sapucahy,o qual te indico para ouvir e te deleitar com uma voz aveludada.Um abraço

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  8. Concordo 100% com as manifestações a respeito do Samba na Gambos,programa que não perco um sequer há mais de seis meses.É de uma qualidade e bom gosto superior,com apresentação do filho do João Nogueira e seu sucedâneo Diogo Nogueira ex centro-avante do Cruzeiro de Porto Alegre.Nesse programa além de ouvir gente de qualidade conheci um grande sambista de raiz(turfista e filho de turfista)Leandro Sapucahy,o qual te indico para ouvir e te deleitar com uma voz aveludada.Um abraço

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  9. -OLA ARON.TUDO BEM !
    TIVE O PRAZER DE JOGAR E CONHECE-LO NO CLUBE PINHEIROS .TIVE A CHANCE DE GANHAR MAS VACILEI E ERA O CAMPEAO BRASILEIRO.
    JOGO XADREZ DESDE 12 ANOS AONDE FUI CAMPEAO DO GINASIO VOCACIONAL -SP, JOGO XADREZ PARA ME DAR MAIS RACIOCINIO NOS NEGOCIOS ADMINISTRATIVOS E DA INFORMATICA
    COMO PURO HOBBY E ESPORTE. RESPEITO SEU SENTIMENTO E COMPRENDO AS PROFUNDEZAS DO PENSAMENTO ENXADRISTICO, ME LEMBRO O QUE ACONTECEU COM O MEQUINHO.
    TENTE APENAS JOGAR POR PRAZER.JOGUEI BASTANTE COM OS AMIGOS DO PINHEIROS ,INTERCLUBE E PARTICIPEI NO ABERTO DOS USA,LEIO ALGUNS LIVROS E ADORO SABER A HISTORIA DE CAPABLANCA ,ALEKINE E OUTROS.
    MAS COMO FIM NÃO É A MINHA PRAIA ,GANHEI MEDALHA DE OURO NO INTERALPHA DE ALPHAVILLE E COHECI GIOVANI QUE ASSISTIU MEU JOGO
    NO INTERCLUBE NO HEBRAICA ,ELE TINHA 15 ANOS,PERGUNTEI O QUE ACHOU DO MEU JOGO E ELE DISSE -JOGO INTERESSSANTE !
    PORTANTO JOGUE TENIS,FAÇA NATACAO(GANHEI MEDALHA DE PRATA NO QUATRO POR VINTE CINCO NO MESMO ANO DA MEDALHA DE OURO DE XADREZ) E ANDE DE BICICLETA E NAO DEIXE NENHUM ESPORTE DOMINA-LO. ENTENDEU? ,ABS.
    eng-adm.dba-ROGERIO BOUCAULT P.ALVES

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