23 outubro 2008

TEM SEMPRE ALGUÉM PIOR

Segunda-feira dos anos 90, pouco antes da meia-noite, eu e o Marcondes Neto, saímos,da agência Pamplona, nessa época grudada na Paulista, num dia pouco feliz nas apostas. A pé, na locomoção e no dinheiro, andamos em direção à Consolação, falando o mínimo possível. Quando muito, um ou outro comentário sobre os castigos.
“Guardou a grana do macarrão?”, ouço a pergunta na altura da Bela Cintra.
“Nem pensar”, respondi de imediato. “E você?” arrisquei esperançoso .
“Chiiii..., jogo empatado. Só um milagre salvará a França!”, sentenciou Marcondes, que adorava repetir essa expressão.
Pendurar não tinha jeito pois já estávamos no caderninho da Cantina, ali em frente ao Belas Artes. Ainda procurando uma saída, já quase na Haddock Lobo, fomos interceptados por um menino de rua. Dirigiu-se primeiro ao Marcondes, que como sempre estava de camisa de seda, calça social, sapato brilhando e uma capanguinha de couro debaixo do braço esquerdo:
- Arranja uns trocos aí, Dr.?
Custo a acreditar mas ouvi meu amigo dizer, enquanto ajeitava os poucos fios de cabelo que lhe disfarçavam a calvície: “Estamos numa situação muito difícil, garoto! E a resposta veio rápida do guri, parecendo texto decorado:
- Se o senhor está numa situação difícil, imagina eu!

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