10 setembro 2009

O Jogo Imortal - Final

Mesmo assim, para o grande desprazer de minha esposa, acabei sendo capturado. É um jogo intoxicante e, embora muitas vezes dificílimo, jamais cansativo. A sofisticada interação entre o simples e o complexo é hipnótica: as peças e as jogadas são suficientemente elementares para que qualquer criança de cinco anos as possa assimilar, mas as combinações no tabuleiro são tão vastas que a totalidade de jogadas possíveis jamais pode ser realizada, ou mesmo conhecida por uma só pessoa. Outros jogos de salão propiciam suficiente diversão, entretenimento, desafio, distração. Mas o xadrez se apodera. Ele não apenas ocupa a mente, mas assenhora-se da mesma de um modo que nos faz pensarem uma conexão primitiva codificada no cérebro humano. De uma forma muito mais poderosa, no entanto, senti-me transportado pela rica história do xadrez. Parecia que ele estava presente em todos os lugares ou épocas, e que era utilizado em qualquer tipo de atividade. Os reis bajulavam e ameaçavam através dele; os filósofos utilizavam-no para contar histórias; os poetas faziam analogias com ele; os moralistas usavam-no em suas pregações. Suas origens estão envoltas em algumas das mais antigas discussões sobre destino versus livre-arbítrio. O xadrez provocou e aplacou brigas; facilitou e sabotou romances; fertilizou a literatura desde Dante até Nabokov. Um livro do século XIII que o tomava como guia para a moralidade social pode ter sido o segundo texto mais popular da Idade Média, depois da Bíblia. No século XX, o jogo possibilitou aos cientistas da computação criarem máquinas inteligentes. O xadrez também tem sido usado, nos tempos modernos, para estudar a memória, a linguagem, a matemática e a lógica, e recentemente emergiu como uma poderosa ferramenta de aprendizado nas escolas do ensino fundamental e médio.
Quanto mais eu aprendia sobre essa relevância cultural particularmente sólida, século após século, mais me parecia que o poder de resistência do xadrez não era nenhum acidente histórico. Assim como na Bíblia e em Shakespeare, havia nele algo particular que o tornava sempre acessível às sucessivas gerações. Servia a uma função genuína – talvez não de ordem vital, mas frequentemente muito mais do que simplesmente útil. Muitas vezes me vi imaginando como teriam evoluído acontecimentos ou vidas particulares na ausência do xadrez – situação esta, como vim a saber, que muitos que odeiam o xadrez ardentemente
desejaram. Talvez a mais vívida medida da potência do xadrez seja, de fato, a determinação de seus inimigos ortodoxos em eliminá-lo – desde uma lei do ano 655, do califa Ali Ben Abu-Talib (genro do profeta Maomé), até recentes decretos do aiatolá Ruhollah Khomeini, em 1981, do Talibã em 1996 e do clero iraquiano posterior a Saddam Hussein. Entre esses períodos, o xadrez foi proibido:

em 780, pelo califa abássida Al-Mahdi ibn al-Mansur;
em 1005, por Al-Hakim Bi-Amr Allah, do Egito;
em 1061, pelo cardeal Damiani de Ostia;
em 1093, pela Igreja Ortodoxa do Leste;
em 1128, por São Bernardo;
em 1195, pelo rabi Maimônides;
em 1197, pelo abade de Persigny;
em 1208, pelo bispo de Paris;
em 1240, pelos líderes religiosos de Worcester, Inglaterra;
em 1254, pelo rei Luís IX da França (são Luís);
em 1291, pelo arcebispo de Canterbury;
em 1310, pelo Conselho de Trier (Alemanha);
em 1322, pelo rabi Kalonymos ben Kalonymos;
em 1375, por Carlos V da França;
em 1380, pelo fundador da Universidade de Oxford, William of Wickham;
em 1549, pelo proto-hierarca Silvestre, da Rússia;
e em 1649, pelo czar Alexei.

Mas, assim como o Talmude, a teoria da seleção natural e qualquer paradigma do pensamento organizado que os humanos acharam irresistivelmente estimulante, o xadrez se recusou a partir. Por que razão 64 casas e um punhado de estatuetas comuns de guerra terão sido tão difíceis de apagar da imaginação humana? O que havia com o xadrez que simultaneamente atraía a devoção e a repulsa, desencadeando tantas idéias e observações poderosas, por tantos séculos?
Foi isso o que resolvi compreender, através de uma minuciosa pesquisa da história do xadrez e de um olhar novo sobre o jogo.

5 comentários:

  1. www.chess.com--DE GRAÇA--sem burocracia--desafio qq um,meu apelido BONAPARTISTE.O ARON é filho de S.ROSENTHAL--POR ISSO é muito bom--mas eu tb tenho pedgree!!kkkkkk--e sou inspirado por BOGOLJUBOW--KKKKKKKKKKK

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  2. ontem o www.chess.com homenageou o JOHANES ZUKERTORT--ele ganhou o torneio de LONDRES DE XADREZ de 1883 por tres pontos a frente de seu arquirrival STEINITZ.

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  3. curiosidades XADREZ--ZUKERTORT,polones-judeu,morreu apos uma partida,com hemorragia cerebral---seu cérebro literalmente FRITOU!!--seu RIVAL,WILHELM STEINITZ,FICOU louco,e desafiou DEUS pra uma partida de XADREZ,DANDO UM LANCE E UM PEÃO DE VANTAGEM,KASPAROV foi preso em uma manifaestação e não aceitou beber nem comer na cadeia,com medo de ser envenenado,BOB FISCHER arrancou todas OBTURAÇOES dos seus dentes,achava que OS RUSSOS IMPLANTARAM CHIPS EM SEUS DENTES,KARPOV contava com o apoio de FILIPE KARPOMANES--presidente da FIDE,E BOTVINNIK com total e irrestrito APOIO DO PARTIDO COMUNISTA--ELE E KARPOV eram a parelha favorecida.

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  4. Aron, muito boa sua abordagem e seus comentários sobre o xadrez, um jogo que, perdoem-me os prejudicados, é restrito a pessoas que possuem inteligência acima da média. Nos meus anos de editor de esportes da Folha, fui um dos pioneiros em abrir espaço para uma coluna de xadrez em jornal. Contratamos aquela figuraça romena que você deve conhecer, o Alexandru Sorin Segal,que mal falava o português e que eu tinha de decifrar o que ele pensava para poder dar forma legível aos pensamentos do homem. Eu passava para o papel grandes partidas dos maiores mestres da história (quando era uma jogada genial, o Segal me dizia para escrever exclama três vezes !! - ou exclama e interroga !! - e eu me divertia muito com seu português quase indecifrável e seu jeito estranho de ser - isso, aliás, uma característica normal de todo enxadrista de elite. Nos deliciavamos reproduzindo partidas de Capablanca, Spasky. Fischer, Karpov, e tantos outros que nos proporcionavam deliciosos exemplos de jogadas e estratégias surpreendentes e inesquecíveis diante de um tabuleiro. Houve uma época em que o xadrez virou uma febre na redação, e jogavamos a tarde toda entre um trabalho ou outro, organizavamos campeonatos, desafios, era uma delícia. Ganhei e perdi muitas pertidas nessa época, mas toda vez que u Segal me deu uma chance de jogar com ele não paguei nem placê...Sào memórias de uma época de ouro, quando muito aprendi, e de um jogo que não existe igual no mundo. P4R para você, um grande abraço...

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  5. Obrigado Pio,

    O Segal é um grande amigo embora hoje não tenhamos mais a convivência de anos atrás. Desde quando comecei a me destacar nos campeonatos juvenis, era um dos companheiros de noitada, sim porque nesta fase não levava o jogo como um profissional e gostava de me divertir durante os Torneios. Sempre foi um sujeito alegre e espirituoso e um bom contador de histórias. Como você mesmo diz, memórias de uma época de ouro...
    Grande abraço

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