RELEASE – PALESTRA DE CIARAN KENNELLY – ABCPCC
21/3/2013
AUDITÓRIO DO HOSPITAL VETERINÁRIO – JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO
Ciaran
Kennelly (fala-se Kíran) viajou ao Brasil a convite da ABCPCC para
falar sobre a integração da OSAF à Federação Internacional de
Autoridades Hípicas (IFHA), especialmente ao comitê de provas de grupo
(IRPAC) e ao Ranking Mundial dos cavalos de corrida (WTR), baseado nos
ratings.
O
irlandês foi handicapper do Irish Turf Club entre 1987 e 1999, depois
handicapper no Hong Kong Jockey Club entre 1999 e 2007, assumindo,
posteriormente, a função de consultor da IFHA, tendo sido chairman do
WTR e principal coordenador nas integrações de Estados Unidos, Japão e
agora América do Sul à Federação Internacional. Já realizou conferências
nos Estados Unidos, Japão, França, Nova Zelândia e muitos outros
países.
Após
abertura feita pelo Presidente Sergio Luis Coutinho Nogueira,
ressaltando a importância do assunto e, sobretudo, da visita de Ciaran,
este passou a falar sobre a origem da IFHA e sua principal missão:
Promover a boa regulação e as melhores práticas em assuntos
internacionais, coordenando e harmonizando as regras dos seus países
membros acerca de criação, corridas e apostas#.
O
primeiro ranking internacional de cavalos de corrida, à época chamado
IC, foi publicado em 1977. Agregando muitos outros países, passou a se
chamar World Thoroughbred Ranking (WTR) em 2004, sob os auspícios da
IFHA. Com a inclusão da OSAF no ano passado, hoje esse ranking engloba
todas as regiões (nos anos 90 entraram os EUA e o Japão e mais
recentemente África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Hong Kong,
Cingapura e Emirados Árabes).
Em
última análise, disse Ciaran, o WTR confere credibilidade aos cavalos
treinados na América do Sul. Antigamente, antes da inclusão dos cavalos
da região no WTR, para que um animal brasileiro tivesse um rating
reconhecido, precisava correr fora do país, ou depender da análise de
algum handicapper do país destino (como acontecia com Dubai). A partir
do ano passado, depois de 2 anos de trabalho dos handicappers da OSAF em
conjunto com Ciaran, as avaliações locais, baseadas na metodologia
internacional dos ratings, são válidas para todos os fins.
Um
desses fins é a análise técnica das provas de grupo, o que é feito
mundialmente pela IFHA através do IRPAC#, criado em 2002 justamente para
controlar a correta utilização dos critérios internacionais nas provas
de grupo dos seus países membros.
Esse
critério internacional reconhecido é baseado na qualidade dos quatro
primeiros colocados nos três últimos anos de cada prova de grupo. Ou
seja, por mais que tradição e prêmios sejam aspectos relevantes,
salientou Ciaran, o que garante ou não a manutenção de uma prova como
sendo Grupo 1, 2 ou 3 é a qualidade média, calculada pelos ratings, dos
seus protagonistas principais.
O
IRPAC é quem recomenda que uma prova seja rebaixada ou promovida; e que
também recomenda rebaixamento ou promoção de um país no famoso Livro
Azul. O efeito dessas recomendações, ou melhor, o destino prático disso é
a SITA, a associação internacional dos leiloeiros, a quem cumpre
utilizar os respectivos black-types nos catálogos de leilão.
Ciaran
salientou que é imprescindível, para evitar o rebaixamento de um país
no Livro Azul, que estruturas de análise técnica das provas de grupo
existam e sejam efetivas em nível local e regional. Assim, agora que a
metodologia dos ratings foi adotada e a OSAF fala a mesma língua dos
demais países, precisa se estruturar para analisar se os critérios estão
sendo seguidos, e, em consequência, propor rebaixamentos e promoções de
provas, lastreada, obviamente, pela média de ratings já explicada.
Antes assim do que simplesmente se submeter de forma unilateral a rebaixamentos via IRPAC, explicou Ciaran. “Failure
to do so and to evaluate all the South American Group races will put
the position of South America as a Part I country in jeopardy”.
Nesse
ponto o Presidente Sergio Coutinho Nogueira pediu a palavra para dizer
que o Brasil já estava estruturando um comitê local, tendo conversado
com representantes dos principais Jockeys Clubes a respeito, com ótima
receptividade. Ciaran então se mostrou satisfeito, dizendo que mais uma
vez – como no caso das medicações – o Brasil estava dando o exemplo.
O
consultor disse que, assim como no exemplo da integração Australiana,
será concedida uma tolerância aos países da América do Sul no tocante às
médias das suas provas de grupo. Não teremos que, no princípio, ter a
mesma média dos países europeus, nem mesmo da própria Austrália.
Uma
medida que deve ser incentivada pelos Jockeys e Associação de Criadores
e Proprietários é a exportação de cavalos em treinamento que possam
correr no nível dos ratings aqui estabelecidos, no exterior. Caso da Old
Tune, por exemplo, que nos EUA correu exatamente no rating aqui
conferido, dando credibilidade aos ratings das corridas brasileiras.
Caso idem do argentino Suggestive Boy.
Ciaran
a seguir explicou basicamente como são construídos os ratings,
salientando que foram 2 anos de trabalho junto aos handicappers da
América do Sul e que, logicamente, seriam necessárias horas e horas para
que os presentes entendessem a sistemática. Os ratings partem do
princípio de que a maioria ou ao menos boa parte dos cavalos correm no
mesmo nível em suas várias atuações. A partir desses cavalos é possível
construir, com uma precisão matemática, baseada em tabela de diferenças
de corpos x libras nas diversas distâncias, os ratings acima e abaixo
desses chamados link horses.
Finalmente,
Ciaran explicou a necessidade de os países de uma mesma região usarem
uma só tabela de peso por idade, a famosa tabela II. O irlandês fez
questão de frisar ser inaceitável, aos olhos da Federação Internacional,
que dentro de um mesmo país hipódromos utilizem tabelas diferentes,
como ocorre no Brasil.
Lembrando
que o peso numa prova de peso por idade é ignorado para efeito de
ratings (ou seja, um 3 anos com x quilos de vantagem não tem essa
diferença computada em seu desfavor frente a um cavalo mais velho),
disse que um mesmo cavalo, chegando mesma posição frente a outro cavalo
nos dois hipódromos teria ratings iguais, mesmo deslocando pesos
diferentes, o que desacredita toda a metodologia.
Finalizou dizendo que o status das corridas na América do Sul está em nossas próprias mãos.