11 julho 2017

O betting das lavadeiras


No final do século 19, início do século 20, Porto Alegre contava com quatro hipódromos funcionando regularmente
Colaboração de Davi Castiel Menda

Esses dias, deparei com o número 111 numa imagem na internet e este simples fato me remeteu à década de 1950, no século passado, quando ainda muito jovem comecei a frequentar o Hipódromo do Moinhos de Vento, em Porto Alegre. 
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Pavilhão do Jockey Club na década de 1950Foto: Não se aplica / Museu Joaquim Jposé felizardo / Fototeca Sioma Breitman
É interessante relembrar que no final do século 19, início do século 20, nossa cidade contava com quatro hipódromos regularmente funcionando: Boa Vista, Rio-grandense, Navegantes e Independência (Moinhos de Vento). Atualmente, a Capital conta com o Hipódromo do Cristal.
Do pradinho da Independência, hoje transformado numa magnífica praça chamada de Parcão, restam as agradáveis lembranças dos craques que ali atuaram. Destaque para Estensoro, o melhor cavalo de todos os tempos, e para os jóqueis Antonio Ricardo, Mário Rossano, José Fagundes, Clóvis Dutra, Roberto Arede, Oraci Cardoso e tantos outros. Suas vitórias e seus recordes, suas tantas alegrias e tristezas, foram substituídas, hoje, por um público disciplinado e dedicado em manter sua condição física ao praticar o seu jogging, nem imaginando que aquele mesmo, mesmíssimo local, há 58 anos, era o palco de tantas e tantas emoções, visita obrigatória de políticos famosos e das mulheres mais charmosas da cidade, que ocupavam o pavilhão, com seus vestidos e chapéus exuberantes e multicores, nos Grandes Prêmios que ali eram realizados.
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Tribuna de honra, na década de 1930, quando a sede era no Moinhos de VentoFoto: Reprodução / Jockey Club RS
Um dos tantos atrativos das tardes turfísticas daquela época era o desafio de acertar os vencedores dos terceiro, quarto e quinto páreos, aposta conhecida por betting pequeno, ao custo de Cr$ 5 (moeda à época), ou os três últimos páreos, sexto, sétimo e oitavo – o betting grande –, estes custando Cr$ 10. 
O público adorava esses dois concursos e, mesmo aqueles que não os acertavam, misturavam-se aos ganhadores junto aos guichês, onde era feita a demorada conferência manual (computador nem pensar naquela época!), ansiosos por saber quantos eram os felizardos e o valor do prêmio a ser distribuído.
Considerando que, normalmente, os números 1 eram os mais prováveis ganhadores dos páreos, quando acontecia a vitória de três deles, formando o betting 111, estava criado um clima de excitação geral e alaúza contagiante pela ocorrência de um grande número de acertadores e, em consequência, um rateio bastante baixo. Quando isso sucedia, o comentário geral – e que, algumas vezes, chegava até a manchete dos jornais do dia seguinte – era que acontecera o "betting das lavadeiras", numa clara alusão ao baixíssimo valor cobrado por aquelas humildes senhoras que iam de casa em casa, buscando as roupas para serem lavadas, e as entregavam, dias depois, invariavelmente transportadas numa trouxa equilibrada sobre a cabeça, impecavelmente limpas e engomadas. 
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Estensoro, o melhor cavalo Tríplice Coroado em 1958, e o jóquei Antonio RicardoFoto: : Nestor Cavalcanti de Magalhães / Jockey Club do RS
Aproveito para homenagear a todas elas, na pessoa da saudosa dona Ambrósia, que era a colaboradora lá de casa.

Um comentário:

  1. E acontece que a evolução fas muito entender. Que o homem sempre luta para evoluir seu espírito em qualquer setor..parabemes.

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