20 outubro 2015

Wishing The Moon e seus sonhos

Stud Figuron & VarandaMeu nome é Wishing The Moon e mamãe me colocou este nome porque tinha desejos de ir a lua. Papai também era ligado nos fenômenos do céu e admirava muito os raios e seus trovões.  Mesmo com eles sempre a pensar nas nuvens, nasci sem estes devaneios, o que eu queria mesmo era correr, saracotear, pular e escoicear. Coisas da minha raça.

Desde cedo, todos que me viam no galope diziam: "olha como ela se atira bem, na certa vai ser o orgulho da família". Tanto ouvi que acreditei. Comecei a me preparar com afinco e na flor dos meus dois anos já estava quebrando os relógios naquele lugar que os humanos deram por  nome  hipódromo. Eles me viam treinar e se entusiasmavam, "como corre essa danada". Eu, feliz, correspondia mais e mais.

Dizem que o que tem que ser será, mas eu não acredito muito no destino. Um dia acordei tão feliz que resolvi galopar com mais intensidade. Ia lépida e faceira, tanto que me distraí e  esqueci de fazer a curva. Bati com toda a força na cerca e fiquei severamente machucada, entre a vida e a morte mesmo. Começava aí o meu calvário, mas também o início de um sonho.

Foram tantos os cuidados, tão sinceros e comovidos, que aos poucos fui me recuperando. Os humanos gostam de mim, "ela se salvou, que bom" era o que eu mais escutava. Mas escutava também "voltar a correr é difícil, a mão esquerda foi muito afetada". Realmente, doía  demais a minha mão.

Genética em cavalo tarda mas aparece. Comecei a ter os devaneios de mamãe. Sonhei em voltar a treinar . Sonhei em quem sabe competir...

A partir daí, todas as energias foram canalizadas para este propósito. Aprendi tudo outra vez: caminhei, trotei e depois galopei.

Volto a dor. Disse Pessoa " o poeta é um fingidor, finge tão perfeitamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente". O poeta no caso era eu. Porque doía para cacete, com perdão do mau vocabulário. De tanto conviver com a maldita, ficamos amigas e fizemos um trato: pode doer, mas na carreira não.

Enfim, depois de longo e tenebroso inverno, participei de minha primeira corrida. Orgulho e decepção. Orgulho por cumprir o sonho, decepção por ter feito de forma apática. Me acovardei mesmo. Mas meus "interessados" (já disse para todo mundo que tenho interessados, donos não) só me exaltaram.

Abro um parêntese para falar dos meus interessados. Compreensivos ao extremo e muito amorosos comigo, sinto o maior orgulho de ir a raia sob a farda do famoso Turfe Polêmica. São mais de 2700 pessoas que torcem por mim, ninguém tem um fã clube como esse meu.

Me compenetrei mais e mais nos treinos e na segunda atuação fiz segundo lugar, gostei demais daquela areia cheia de água e deslanchei de verdade, citando o Pessoa de novo, digo que navegar é preciso, o resto que se dane. Poderia ter ganho o páreo, mas deixei para uma ocasião mais especial, sempre amei o Rio de Janeiro...

Os meus interessados logo sacaram esse meu amor e me concederam mais esse desejo. Na primeira e na segunda apresentação  no majestoso Hipódromo da Gávea, eu não correspondi. Sangrei demais.

Ontem, todavia,na terceira, com aquele aguaceiro na pista, do jeito que eu gosto, consegui viver e propiciar um sonho dentro de um sonho. Correr era o primeiro, todos vocês sabem, mas ganhar era  o meu sonho secreto, seria meu tributo a todos que acreditaram em mim, e ele também se realizou.

Queria deixar aqui a minha homenagem a todos os meus interessados, está claro que sem o incetivo dos mesmos, nenhum dos sonhos seria possível. A música abaixo é para vocês... Lembrem-se, não há uma sem duas. Meu muito obrigada!




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