16 novembro 2010

Os jóqueis I



Extraio do livro Seabiscuit: Uma Lenda Americana, da escritora Laura Hillenbrand, pontos bem interessantes sobre a arte de montar. Em três postagens para não cansar o leitor. Ao texto:


Conduzir um cavalo de corrida é como cavalgar uma catapulta de meia tonelada. Sem dúvida alguma, é um dos maiores feitos do esporte. A extraordinária exigência atlética do jóquei não tem paralelos: um estudo sobre atletas dos principais esportes, realizado por médicos e fisioterapeutas, chegou a conclusão de que, peso a peso, os jóqueis são os mais bem preparados. E precisam desse preparo. Para começar, há as exigências da balança, depois vêm a coordenação motora e os reflexos. O corpo de um cavalo é uma topografia em constante mutação provocada pelo balanço da cabeça e do pescoço, pela ondulação dos músculos dos ombros, das costas e das ancas. O jóquei não senta sobre a sela de um cavalo a galope: ele se agacha sobre animal e apóia todo seu peso sobre os dedos dos pés, colocados nos estreitos estribos de metal pendurados a cerca de trinta centímetros do ponto mais alto das costas do cavalo. Sobre um cavalo a toda velocidade, somente os tornozelos e a parte interna dos pés do jóquei estão em contato contínuo com o animal, todo o resto fica equilibrado no ar. Em outras palavras, os jóqueis se mantêm como que empoleirados sobre o capô de um carro em grande velocidade, ziguezagueando no tráfego intenso de uma auto-estrada. Segundo os pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, essa posição é "uma situação de desequilíbrio dinâmico e de oportunidade balística". O centro de equilíbrio é tão pequeno que se os jóqueis se deslocarem um pouco para trás, por mínimo que seja o movimento, cairão sentados. Se esse deslocamento mínimo for feito para a frente, a queda será quase inevitável. Apesar de comprido, o pescoço de um puro-sangue é surpreendentemente estreito, como o corpo de um peixe. Ondulando para cima e para baixo enquanto corre, oferece muito pouco para o jóquei agarrar no caso de precisar evitar uma queda. Se tiver a infelicidade de cair, o jóquei corre o risco de ser pisoteado pelos cascos do animal.
Montar em uma corrida é exepcionalmente exaustivo. Após sua primeira corrida em torno de uma pista, é comum  ver os aspirantes a jóquei desmontando com as pernas bambas que não conseguem andar até a cocheira. A força  não é apenas uma ferramenta usada para vencer, ela é necessária para sobreviver. O jóquei Johnny Longden certa vez foi abalroado no meio de uma corrida, perdeu o apoio nos estribos e voou em direção ao solo, quase caindo na frente de um bando de cavalos. Foi salvo por um jóquei que corria ao seu lado, George Taniguchi. Este era tão forte que conseguiu apanhar Longden com uma das mãos. Taniguchi não conhecia sua própria força e tentando empurrar Longden de volta para a sela, o que conseguiu foi colocá-lo sobre as ancas do cavalo. Longden se encontrou na mesma situação de perigo, porém do outro lado da sua montaria, até que o jóquei Rogelio Trejos, cujo cavalo estava a ponto de derrubar Longden, se debruçou para a frente, o agarrou com a facilidade de um pegador de beisebol e o endireitou na sela, também usando só uma mão. De modo inacreditável, Longden venceu a corrida. Comentando o fato, o Daily Racing Form declarou que o acontecido fora "uma impossibilidade suprema".
O jóquei não é mero passageiro de um cavalo de corrida. A tarefa de levá-lo à vitória é difícil e perigosa. Antes de tudo, ele necessita de um apurado senso de velocidade para calcular o ritmo em cada "perna", ou subdivisão da pista em duzentos metros. A estratégia é crucial. Corredores de ponta têm melhores chances  de vencer se o ritmo inicial da prova for moderado ou lento, guardando energia para aparar o ataque dos corredores de alcance, que preferem aguardar atrás, enquanto os ponteiros imprimem um ritmo veloz e exaustivo, para então ultrapassá-los na reta final. A diferença entre um ritmo mais rápido ou mais lento pode ser uma fração de segundo, e os jóqueis devem ter a capacidade de escolher entre as duas possibilidades e colocar seu cavalo na melhor posição. Os grandes jóqueis têm um talento fantástico para calcular exatamente a velocidade de um galope com diferença de dois ou três quintos de segundo do tempo real e , se solicitados, podem conduzir os cavalos precisamente no tempo pedido, em uma distância predeterminada.

Um comentário:

  1. Aron.
    A profissão de joquei não é tão mole como muita gente pensa.Como bem diz no texto,"O Joquei não é mero passageiro de um cavalo. A tarefa de leva-lo a vitoria é dificil e perigosa.

    ResponderExcluir

Envie seu comentário

Real Time Web Analytics