30 novembro 2010

A triste história de um quase campeão

Quase todo proprietário que teve um número considerável de cavalos de corrida, passou pela experiência de possuir um animal de exceção, que trabalhava quebrando relógios e que por um motivo ou outro não conseguiu mostrar em pista toda a esperança depositada em suas patas. Um desses motivos, o mais comum deles, é o famoso cavalo ladrão de trabalho: é 40 nos 700 e 60 no quilômetro, mas em carreira não consegue sair do perdedor. Não são esses os animais que serão objeto desta postagem. Os cavalos a que me refiro são craques de fato, porém, por problemas físicos, não conseguem mostrar toda sua potencialidade, ainda que na base da valentia, consigam se superar e obter destaque nas corridas. Um destaque que não pode ser pleno.
Em email trocado com Adolpho Smith de Vasconcellos Crippa, este me relatava de grandes cavalos que passaram pela sua cocheira. Corriam com problemas terríveis e se superavam. Olhem os seus comentários a respeito dos animais :
Tequila Anis - teve, ao longo de sua campanha, umas 5 fraturas diferentes e com muitas correu . Chegou a ganhar, inclusive,  Prova de Grupo.
Belo da Guanabara - não tinha tendões visíveis no ultrassom, de tão lesionados que eram. Isso não impediu que ganhasse duas provas aos três anos em Cidade Jardim.
Sara Est - quase ganhou um Clássico contra os machos, tinha sesamóides e cascos totalmente porosos, fez toda sua campanha só trabalhando 400 metros em reta e mancava após cada corrida. Esta só correu no ano 2007, conseguindo três vitórias, fechando suas atuações em um Clássico em mil metros, este relatado acima, onde foi quarta colocada.
Todo este assunto de cavalos valentes, veio a tona por eu ter ficado impressionado com Al Ghanín, cavalo que ficou quase um ano parado, e que voltando a competir em provas duras, mostrou um padrão bem superior ao anterior. Disse ao Adolpho, que nesta Prova Especial de domingo, se o Roberto Alberto não empurra ele na curva, tirando-o do natural, poderia ter dado torcida. Mais surpreso fiquei, quando o proprietário me relatou que o neto de Figuron mancou nos quatrocentos finais e que seu jóquei, o A.C.Silva, acreditava que poderia lutar pela vitória caso este percalço infeliz não tivesse acontecido. Daí que me veio a curiosidade de saber toda a história do Al Ghanín.
Sempre teve problemas, desde a estreia onde mancou, ainda pela farda do Eternamente Rio. Nunca mais foi o mesmo. Para se ter uma ideia na fé do L.Esteves no cavalo, a ideia era correr a primeira, ganhar, e logo em seguida ser inscrito diretamente no GP Ipiranga. Ficou um cavalo comum, ganhando sua primeira corrida na quinta saída à pista. Em um retrospecto cheio de descolocações, aconteceu a transação que fez do Adolpho, o proprietário de um cavalo que tinha, eu disse tinha, um  enorme potencial. Vejam seu relato:


"Comprei ele com sério problema no ligamento, corremos 4 vezes com ele mal. Duas vitórias e duas descolocações (grama e Prova Especial). Até em respeito ao ótimo cavalo que acredito que ele seja, fiz a loucura de operá-lo, mesmo sabendo ser um caso de prognóstico muito ruim.
Voltou sem trabalho forte e fez segundo em um Pesos Especiais. Agora, para este domingo, demos uma arrumada da forma possível e ele mancou de vez. Esse é mais um dos casos dos cavalos que deveriam ter sido ganhadores clássico, mas que  nunca serão.
A coisa que sempre  me tocou no turfe, muito embora tenha tido alguns cavalos (parte ou inteiros) que considero muito acima de média como o Mr. McCartney, o Araçaí e o Pitu da Guanabara, alguns ótimos como a Baby Victory e a Luna da Guanabara e mais alguns bons que ganharam clássicos em geral como o Zorin e a Zaya, que são os que me lembro de pronto, foram os cavalos com problemas físicos que se superavam."

A história termina de uma forma triste, pois o Al Ghanín voltou  de "capelinha" após esta última atuação e é bem provável que nunca mais seja visto em carreira. Mas queria deixar externado aqui neste espaço, uma sincera homenagem  a todos os Al Ghaníns que certamente passaram despercebidos pelos hipódromos do mundo e na linda simbologia de amor e fé que estes animais acabam proporcionando, na relação dos proprietários com seus cavalos de corrida.

3 comentários:

  1. Adolpho Smith de Vasconcellos Crippa1 de dezembro de 2010 às 10:55

    Ficou ótima a postagem, muito legal mesmo.
    Sobre o Belo da Guanabara, ele, sem boa parte dos dois tendões, ainda fez terceiro em Grupo 2 e perdeu um GP São Paulo num photochart bem demorado.
    E a Sara Est, quando disse que quase ganhou um clássico, foi por conta de ter chegado a menos de 1 corpo do ganhador Carburado e tendo feito um páreo à parte com ele nos últimos 300 metros. Os dois que se colocaram entre eles corriam último e penúltimo.

    Abraço

    Adolpho



    PS: O Al Ghanín agradece sua reverência...

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  2. RODRIGO LACERDA
    Muito bom,aproveito para convidar o internauta para participar do Doutores do Turfe sobre quem foi o melhor Itajara ou Mach Better

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  3. Com esta matéria com sentimento pelo grande turfista Adolpho lembrei dos meus valentes do Bens e Valores que remontam de 1981 p/ frente- e claro que são os que nos amarramos Tacitus, Jik, Clever, Vianda, Marinheiro Só, Xenxem, Daunt Champion, quantas lembranças, quantas emoções que como diz Balla só o turfe pode proporcionar
    Obrigado Adolpho por tocar neste assunto

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