Por Olavo Rosa Filho
Pules e Acumuladas
Nasci no Rio de Janeiro, e conforme minha mãe contava, eu ia no jóquei dentro dela, antes de nascer e o meu primeiro passeio, com direito a carrinho, chupeta e gorrinho foi no Hipódromo da Gávea, talvez por isso eu até hoje
carrego esta paixão.
Mudamos para São Paulo em fins 44 e fomos morar rua Miragaia, a 300m
do portão da Vila Hípica, essa proximidade, fazia com que eu acompanhasse
o turfe desde muito pequeno e todos os fatos aqui narrados são da minha
memória.
As poules eram impressas, vencedor, placê e dupla, tinham um fundo
colorido, amarelo, rosa e verde, e algumas marcas de segurança, mas
se houvesse impressoras de hoje naquele tempo, seria a coisa mais fácil
de fraudar, todavia até o início dos anos 70, quando foram implantadas a
maquinas de aposta, nunca houve caso de falsificação. Muita gente guardava
uma de lembrança de um Grande Premio, de um passeio com a noiva, de um
aniversario. Quando corria um páreo, milhares delas eram arremessadas ao
chão e havia funcionários com um espeto de metal, que pacientemente iam
recolhendo aqueles papeizinhos coloridos.
As acumuladas, instituídas nos anos 30/40 pelo presidente Herculano de
Freitas, eram feitas a mão, com funcionários que tinham uma letra bem bonita,
em 3 cópias com carbono. Havia também mensageiros com uma prancheta
onde eram colocadas as poules daquele páreo e eles as vendiam aos sócios
nas mesas, sempre eles. Havia a necessidade de prever quanto seria vendido
para cada cavalo, saber quais seriam os favoritos, e tinha gente que fazia isso
com perfeição, mesmo em dia de Grande Premio era difícil o uso de poules
extras.
Os jóqueis faziam o cânter e voltavam para a Sala, onde esperavam ordem
de montar para a largada, que era feita com fita, não havia partidor. Nesse 10
ou 15 minutos, todo o movimento era calculado a mão, não havia totalizador, e
com muita precisão, a diferença entre um páreo e outro era de 40 minutos OU
MAIS e ninguém reclamava.
Os funcionários que vendiam e pagavam poules e acumuladas tinham
conhecimento de turfe, sabiam o que estavam vendendo, conheciam os cavalos,
jóqueis, treinadores, muitos deles trabalhavam com a revista Turf & Elegância,
depois O Coruja, junto ao guichê e trocavam opiniões com os apostadores,
tinha um que se chamava Waldemar, que era o mais procurado por gente que
queria saber os palpites dele. um verdadeiro catedrático.
Como dizia Chico Buarque, “e para meu desencanto a coisa doce acabou”
e hoje temos totalizador, CPD, internet, simulcasting, race day, workouts,
MGA (menos gente apostando), agências, apostas on line, mas turfista acabou,
menos nós que resistiremos até o ultimo combatente.
Ser saudosista é apenas preferir os bons tempos dos ruins. Entendo você perfeitamente Olavinho e respeito muito suas lembranças. Que você possa mantê-las por muito tempo.
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