14 março 2015

O Turfe Que Vivi - 3

Stud Figuron & VarandaPor Olavo Rosa Filho

Virgilio Pinheiro Filho, glória e tragédia


Vindo do Paraná no fim da década de 40, um joquei desconhecido, nem parecia um jóquei de tão alto, magro, estribava comprido, tinha uma posição nada clássica como a de um Rigoni, rédeas bambas. Todavia começou a chamar atenção pelo domínio quase sobrenatural sobre o cavalo, outros jóqueis de categoria até tinham problemas com cavalos que não largavam, queixudos, cerqueiros, manhosos, preguiçosos e quando quando chegam na mão dele se transformavam. Corria de ponta, no pelotão, atropelava com violência, num final escamado, parecia batido e voltava inexplicavelmente.

Tinha pouca instrução, mas era muito inteligente, totalmente voltado para profissão, conhecia TODOS os cavalos em Cidade Jardim, mais de 500, no PELO, percebeu que a raia de grama dava vantagem para quem corria por fora e ganhou centenas de corridas por onde batizaram de Av. Pinheiro Filho. Dizem, ganhava muito dinheiro com jogo, tinha gente de confiança que ia nas paradas com ele e se dava muito bem.

Ganhou 3 estatísticas, provas de Grupo, mas sua maior vitória foi com Narvik, no GP Brasil de 1959, batendo o espetacular Atlas, ganhador do Pellegrini sobre Farwell, do GP S. Paulo sobre Gaudeamus e Escorial. Foi uma corrida inesquecivel, Atlas nas pedras tinha 2 corpos e no disco Narvik ganhou por paleta, com o Pinheirinho calmo e tranquilo.

Exercia uma liderança em S.Paulo, onde haviam grandes jóqueis como Gonzales, Pierre, Dendico, Lodgar, Reichel, até o fatídico 31 de agosto de 1963. Pinheirinho montava o cavalo Grego, em um páreo de 1300m na grama estalando, páreo cheio, cerca de 15 cavalos, conversei com dois jóqueis que montaram aquele páreo e eles me contaram.

Grego, ligeiro, tomou a ponta e livrou 2 corpos, vinha galopando tranquilamente, de rédeas bambas, quando nos 1000m sofreu uma fratura e rodou, os cavalos que vinham atrás pisaram nele, vários deles. O João Roldão, que ainda hoje é treinador, vinha atrás entre os últimos, quando viu aquela nuvem de poeira, seu cavalo (Ciclo) instintivamente deu um salto de 8m e passou por cima daqueles cavalos que estavam no chão, um milagre. Carlos Lombardo, que venceu aquele páreo com Piperman, me contou que aquela fração de segundo ainda está na sua mente e ele até hoje não sabe como se salvou.

Daquele acidente, F.Costa ficou paralitico e M. Antunes sofreu fraturas. Pinheirinho morreu a noite no Hospital Beneficência Portuguesa, tinha 34 anos. O seu corpo foi velado no Hospital que existia em Cidade Jardim, perante centenas de fãs, colegas, diretores. Quando Pierre Vaz tomou a palavra e disse: “Com nosso colega aí neste caixão eu não tenho coragem de montar, por isso peço aos senhores Diretores que respeitem” e foi a única vez na historia de Cidade Jardim que uma reunião foi cancelada pela morte de um profissional.

Hoje, 52 anos depois da sua morte, o JCSP, que já homenageou tanta gente sem
nenhuma relação com o turfe, poderia fazer uma homenagem a ele, pelo menos, eu aqui, modestamente,o reverencio como um dos grandes jóqueis brasileiros, deixou uma história aos mais jovens e uma lembrança inesquecível aos veteranos.

Agradeço a João Roldão, Carlos Lombardo e Hoover de Almeida (Bino) pelos depoimentos que ajudaram na redação deste artigo.



    V.Pinheiro Filho é o terceiro no alto, da direita para a esquerda.

4 comentários:

  1. Excelente artigo e uma lembrança para todos. boa Olavinho!

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    1. aron o seu blog e particular so pode ver as indicaçoes do torneios quem e assinante e uma pena

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    2. Anônimo das 3:22

      Meu blog não é particular, tanto que você entrou e postou.
      Eu não estou mais organizando torneios, portanto não há indicações de participantes para ver.

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