12 julho 2012

Rigoni e El Aragones, a atropelada que entrou para a história

 Por Olavo Rosa Filho

Este artigo lembra e homenageia um grande jóquei e um cavalo de grande categoria, para isso narraremos os fatos que antecederam a corrida até chegar ao disco final.

A trajetória do Rigoni no turfe brasileiro é bastante conhecida, já muito se escreveu sobre ele, porém no caso deste GP, teve um aspecto especial: Rigoni já havia ganho estatísticas na Gávea, Derby, dois GP. São Paulo (Garbosa Bruleur e Saravan), era o "homem do violino", o "fantasma da Gávea", numa turma onde haviam os chilenos(Ulloa, Marchant, Castillo, Yrigoyen, Luiz Diaz), os brasileiros (Candido Moreno, Minguinho Ferreira, J.Portilho), mesmo assim ele ganhava deles
com frequência, até acontecer o infortúnio.
 
No domingo do GP Brasil de 53, ganho por Gualicho, houve um páreo de handicap em 1300m na grama com 34 inscrições(!), no fim alinharam 22 na partida, com fita, naquele tempo.Uma temeridade, porque a partida ficava bem perto daquela curva de cotovelo. Na altura dos 800m, rodaram La Vestal(G. Cabrera, chileno radicado no Rio) Eletric (S.Machado) e Porfio (L.Rigoni).
 
Cabrera veio a falecer dias depois, Machado teve escoriações, e Rigoni teve uma forte lesão na coluna, temia-se até que ele não pudesse mais andar.
 
Paralelamente sua vida particular sofreu percalços e ele viu em poucos meses tudo ruir. Perdeu bens e propriedades, perdeu a auto estima, a confiança, só não perdeu o talento e a esperança.
 
Algumas semanas antes do Brail de 54, milagrosamente, ele volta a montar, ganhando corridas, é claro, com mais dificuldades e muitas dores. Embora não devendo se arriscar e tendo que esperar mais tempo tempo para se recuperar totalmente, Rigoni arriscou, pois além de todos os problemas com sua vida particular, havia surgido um novo líder, o Bequinho (M. Silva). Só uma vitória no GP Brasil, poderia recolocá-lo no destaque que sempre teve.
 
Sua esperança veio ao encontro de um convite feito por proprietários de SP (como veremos a seguir), para montar o cavalo El Aragones, um Ramazón em Ei-Chú.

El Aragones, argentino, quando potro teve uma campanha admirável e seus donos o trouxeram para correr o GP São Paulo de 1953, onde pegou pela frente nada mais que o Gualicho; fez segundo deixando o 3º a mais de 10 corpos.
 
 
 
 Isto chamou a atenção de alguns diretores do Jockey, que queriam um cavalo para representar o turfe paulista no IV Centenário, prova que seria a maior de todas, até hoje, de repercussão internacional, dotação de US$ 300.00,00. Faziam parte deste grupo de sócios diretores, entre outros, Luis Oliveira de Barros, Glauco Colli, Franco Clemente Pinto Jr (Haras Old Friends atual), Conde Prates, Fabio Prado. O preço foi 
caríssimo, mas pelas provas que teria pela frente valia a pena o investimento. O Stud La Forja e o treinador J.M.Boquin fecharam o negócio e El Aragones passou para o Stud Piratininga (farda branca, preto e vermelho, cores da bandeira paulista), e antes de vir para São Paulo, nas cocheiras do treinador Orfilio Ojeda e tendo R.B Quinteros como seu jóquei,  ganhou o Pellegrini de 53 (dezembro).
 
Antes da virada daquele ano, embarcou rumo as cocheiras de Cidade Jardim, para se preparar para o IV Centenario.
 
As expectativas com esta prova forma plenamente confirmadas, pois, no dia do Grande Prêmio, havia gente do mundo inteiro, até o Priíncipe Aly Khan aquí esteve, trazendo seu cavalo Shikampur. Uma festa inesquecível. 
 
El Aragones não decepcionou, ganhando facilmente a carreira. Tendo Quiproquó (Peixoto de Castro) como escudeiro, em segundo.
 
 

Em Maio do mesmo ano, houve o GP São Paulo, e os dois se encontraram novamente, num campo reduzido de 6 cavalos. Desta vez ganhou Quiproquó, numa joqueada incrível do Marchant  sobre Luis Gonzales, piloto naquela oportunidade do filho de Ramazón.
 
 

No fim de Julho, El Aragones foi para o Rio em preparativos para o GP Brasil. Foi então que juntaram-se as duas estrelas (ele e Rigoni). O campo da prova teve 16 cavalos, destacando-se o rival Quiproquó, Joiosa (tríplice coroada), Pontino (argentino), Taia(chilena), Yorick (francês), todos ganhadores clássicos.
 
 

Partida na fita dos 3000m (foto) e largaram! Cyro, Taia e Bakari, revezaram-se na ponta até a entrada da reta, onde muitos foram para fora ocasionando a queda de Titanic(J.P.Souza) e Efusivo (O.Reichel). Disso se aproveitou Joiosa (E.Castillo), passando por dentro e dominando Bakari nos 200m. De repente, não mais que de repente, aparece El Aragones, que tinha entrado último na reta, passando uma a um os seus rivais,também por dentro, e domina Joiosa em cima do disco.
 
 
 
Perante uma multidão de mais 20.000 pessoas,  Rigoni e El Aragones foram aplaudidos de pé,  por mais de 10 minutos, uma ovação estrepitosa, digna de um gênio e de um cavalo valente como poucos.

Esta corrida até hoje é lembrada como "Rigoni e El Aragones, a  atropelada que entrou para a história".
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