30 dezembro 2011
29 dezembro 2011
Xadrez
Encontrei no Tabuleiro de Xadrez essa divertida imagem com posições iniciais de partidas, jogadas conforme a ideologia de cada um. Gostei bastante dos três primeiros, já o último eu chamaria de "Xadrez Sodoma e Gomorra", mas valeu.
Luiz Gonzales
Prosseguindo na série sobre jóqueis do passado (o primeiro foi Pierre Vaz), chegamos agora ao nome de Luiz Gonzales, um dos grandes ginetes chilenos que pilotou no Brasil. Mais uma vez, o texto foi colhido pelo nosso patrocinador Marcelo Augusto da Silva, junto ao Museu do Turfe do JCSP.
MEMÓRIAS – JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO (Caetano B. Liberatore)
“O cavalo da minha vida foi o tordilho Funny Boy”
A vida de LUIZ GONZALEZ, um dos maiores jóqueis de todos os tempos no Brasil
LUIZ GONZALEZ inicia sua história:
- Comecei a montar no Brasil, tão logo cheguei a São Paulo, em março de 1932. Fiquei ali quase 10 anos, isso porque a Moóca terminou em 1940 e Cidade Jardim foi inaugurada em 1941.
Na minha família meu pai tomava conta de haras. Eu já nasci no ramo. Dizem que eu fui um bom jóquei.
Bom, em primeiro lugar precisa-se nascer um bom jóquei, assim como todo grande jogador precisa nascer para a profissão e com o tempo a pessoa vai vendo um grande jóquei correr, baseando-se naquela pessoa, vendo tudo o que ela faz, acumulando e acumulando coisas. É como um tipo de escola, porque não?.... No meu tempo não tinha escola. Aprendia-se vendo apenas. Dos bons jóqueis chilenos, dois, três deles vieram para São Paulo. Todos já são falecidos, o Andrés Molina foi o último.
Há uma tradição muito grande de turfe no Chile, eu acho que isso dever ser a influencia existencial de bons jóqueis. Há inclusive a presença inglesa no Chile que é maior do que aqui.
Como naqueles tempos não havia condução, o transporte no interior era só o cavalo. Aqueles meninos que eram mandados para a cidade, para fazer qualquer coisa, iam a cavalo. Montava-se como índio, sem selim, sem nada. Então parecia por lá o proprietário da fazenda, julgando os garotos, este tem jeito, este não. Agora havia muito menino, dava para escolher e os que ele achava que não davam e só queriam sair do lugar já mandava embora porque tinha gente demais. Os bons ficavam.
Eu comecei a montar lá como aprendiz. Quando vim para cá já era profissional. Aconteceu que o jóquei Andrés Molina fraturou uma perna num treino e o proprietário para quem ele montava, um banqueiro chamado Erasmo de Assumpção Almeida Prado, pediu ao Chile, um jóquei para São Paulo. Viria um jóquei que tinha estado no Rio de Janeiro, o Enrique Rodrigues. Como eu já estava ficando muito pesado, ele disse, “olha eu tenho aqui uma carta do Brasil pedindo um jóquei nessas condições, você quer ir?” E isso foi em 1932.
Naquela época era bem mais comum do que hoje os proprietários contratarem os jóqueis de uma forma fixa. Eu acho que era melhor para todos, proprietários e profissionais.
Uma das coisas que me preocupa até hoje é ver o jóquei ficar dependendo do proprietário convidar, vivendo de comissão. Eu não consigo entender por que houve essa mudança, porque vários dos antigos jóqueis eram contratados, eu acho que era um sistema muito melhor.
Um jóquei tem de conhecer o cavalo e isto é muito importante porque ele monta o cavalo hoje – o cavalo não ganha, ela vai saber da corrida o que aconteceu com o cavalo, em termos técnicos, e na próxima corrida ele tem jeito de consertar, de fazer o cavalo render mais. Se por acaso o proprietário descontente muda porque o jóquei não ganhou, o próximo jóquei, por melhor que seja, vai se deparar com os mesmos problemas não corrigidos do cavalo, quer dizer, aqueles problemas para ele serão novidades que também não vai saber enfrentar. Mas se o cavalo perdeu por peripécias de corrida, vamos dizer, largou mal, ficou “encaixotado”, então fecha a curva, vem lá por fora de todo mundo, se reparou nisso, ela vai corrigir, vai tratar de sair junto, pelo menos sair junto. É o mínimo que o jóquei tem que saber. Se não sair na frente, sair junto. E se colocar de acordo com as condições do cavalo.
Um jóquei tem que assistir a tantas corridas quanto possível para entender e ver o desempenho dos animais. Assim ele sabe o principal, sabe como o animal corre, como ele gosta de correr, se na frente, se colocado em 3º ou 4º ou então lá atrás. Não tem importância que esteja lá atrás, porque ele vem no final. Existem jóqueis que fazem, erradamente o vencedor lá pelos 1.000 metros. Existe também o cavalo que vem disparado. Então, há todas essas coisas que a gente tem que reparar no páreo, tem de estudar a corrida. Do cavalo até o jóquei é uma ciência, é uma arte. Quer dizer, a gente tem de estudar todos os cavalos que estão correndo, lembrar de como normalmente eles correm, quem são os jóqueis, como eles lidam com os cavalos e saber como mexer com tudo isso de uma só vez. O hábito do jóquei também é importante, porque tem jóqueis que são nervosos, por que se tem cavalo na frente, se vem em 3º ou 4º ele não espera a reta e faltando muita distancia, já instiga o animal indo para a reta disparado. Isso as vezes é contraproducente, porque tira o animal do normal dele. Houve um cavalo que corria na Moóca, o nome dele era Darbolito, filho da Arbolada. Era um cavalinho que largava sempre em ultimo e corria em 4º ou 5º até a metade da corrida, e de repente ele disparava e passava na frente de todo mundo. Eu acho ate que era um tordilho.
O cavalo que eu montei e do qual mais gostei, quer dizer, com o qual mais me entendi no trabalho foi na Moóca. Ele começou ali. Era o Funny Boy.
Esse foi um bonito cavalo, foi até tríplice coroado na Moóca. Ganhou também no Rio. Funny Boy era um animal que corria em qualquer lugar. Se eu queria correr na frente, em 2º, quando procurava por ele, ele vinha, era um craque. Um craque completo.
Como disputa pessoal houve um caso em Cidade Jardim, precisamente contra o meu rival naquela época, Pierre Vaz. Foram dois páreos seguidos, mas uma coincidência. No primeiro ele veio de trás, passou-me, me dominou por mais ou menos pescoço e daí faltando uns 50 metros eu procurei por todo animal. Cheguei no fim e ganhei de cabeça dele. No páreo seguinte montamos de novo e foi idêntico. Eu vinha na frente, ele dominou mais a uns 50 metros do disco procurei pelo meu cavalo e ganhei de novo.
Não lembro quais cavalos eram, não eram cavalos de grande categoria. Parece que foi 3º e 4º páreos. Pierre era meu competidor de estatística, e às vezes a gente é muito feliz. Na Moóca houve uma tarde de domingo que eu ganhei 6 páreos. Ganhei 6 dos 6 páreos do dia. Em Cidade Jardim ganhei várias vezes 5 corridas num só dia.
Agora em termos de Grandes Prêmios, o mais emocionante para mim foi o Grande Prêmio Brasil com o Albatroz, um grande cavalo. O jóquei que montava era outro chileno, o Zuniga, radicado no Rio e ele na semana machucou o pé. O Dr. Francisco, filho do Dr. Linneo, que inaugurou o Hipódromo da Gávea, me chamou. “Você precisa vir montar no Grande Prêmio”. Albatroz era um dos favoritos e acabou ganhando. Uma coisa que eu nem esperava.
O Albatroz ganhou 2 Grandes Prêmios Brasil seguidos e no meio um Grande Prêmio São Paulo. Aquela do Rio foi a última corrida dele. Estava no limite de idade para correr.
Eu lembro de alguns cavalinhos que acompanhei desde o começo, de potrinho. Houve um especial como já disse, o Funny Boy. Era todilho, grande cavalo!
Era do Haras São José & Expedictus. Ele ganhou no Rio. O proprietário esta sempre de grande gala.
Houve quem dissesse que eu era melhor que o Luiz Rigoni, mais eu acho que não. Sabe o que é, no Rio se vive para duas coisas: o futebol – que como o carioca não tem – e o resto é corrida. Eles são fanáticos – tanto no futebol, quanto no turfe. E lá tem entusiasmo. Aqui o público é um pouco mais seco. Bate palmas, reconhece, mas não se entusiasma. O Hipódromo da Gávea é bonito, se bem que eu acho que quando o jóquei está no cavalo, não vê nada ao lado.
Durante minha vida em São Paulo eu montei 19 anos para o mesmo proprietário – o Dr. Linneo. Ele tinha duas fazendas, em Rio Claro e em Botucatu. Era uma criatura muito generosa, pelo que eu fiquei sabendo e vi. No Rio, o hipódromo era onde está o Maracanã. Então o Dr. Linneo vendeu aquele terreno, e comprou o terreno da Gávea. E naquele tempo ela “mandava”. Ele conseguiu o pedaço da Lagoa Rodrigo de Freitas, que aterrou, porque o lado de cá tinha um morro e uma avenida. E para conseguir formar o programa tinha a sua farda (ouro com costuras azuis), tinha uma farda com o secretário dele, e ele mesmos dizia “Você vai ficar com essa farda”. Tinha um que era Diretor do Jockey. Então ele dava as fardas para poder formar os páreos. Quando corriam 7 cavalos, pode-se dizer que 5 eram dele. Só que corriam com fardas diferentes. Isso era no inicio. Depois começaram a surgir mais proprietários e a coisa se desenvolveu.
Este outro cavalo aqui na foto é o Quati. Mas não era criação do Linneo. Era um alazão grande do qual toda a gente gostava. Na despedida dele eu montei. Só correu ele em 3218 metros, prêmio Rei da Raia Paulista. Fiz o percurso inteiro sob palmas. Valeu!
Houve um caso interessante num Grande Prêmio São Paulo. Houve um mal entendido com meu patrão, porque o cavalo dele corria com 53 quilos e eu não fazia esse peso nem cortando uma perna. Eu disse “Dr. , 53 eu não faço”. “Não! Se você fizer 53 monta o cavalo”. Ele sabia que eu não conseguiria. Então trouxe um jóquei do Rio. A imprensa que estava do meu lado começou a falar que eu poderia montar o Guaraz, de outro proprietário para competir com aquele cavalo que eu não poderia montar por causa do peso. Então, precisava de uma ordem do Dr. Francisco Eduardo de Paula Machado que era meu patrão, e por pressão da imprensa ele concordou. Infelizmente acabei perdendo para um cavalo que montava o Rigoni. Quando passava antes do páreo vi que o cavalo do Rigoni pisava mal e eu achava que ele não conseguiria correr. Mas ele ganhou......
Contavam também que o Rigoni falou uma coisa gozada. Ele disse que a 1ª corrida que ganhou sobre cavalo meu, passou 5 dias para acreditar.
Eu só tive um filho. Ele é alto e não me seguiu no turfe.
Sabe, tenho uma lembrança. Quando ele nasceu, foi um sábado. Era a 1ª vez que o Funny Boy corria. E tinha uma fita de partida, não era como agora que existe o partidor elétrico. O Thomazinho era quem dava a largada. E perto era cheio de arvores, no caminho do Paddock, porque a cocheira ficava fora, na rua, a uns 100 metros dali. Levamos o cavalo na fita e tinha também vários potros que não haviam ainda corrido. Ele largou, saiu na frente. E ao invés de correr na pista procurou o caminho para a cocheira. Eu caí no barro e até fiquei assustado achando que tinha me quebrado todo. A velocidade que este animal saiu correndo foi incrível. Na reprodução ele sumiu, não sei o que aconteceu.
Foi uma pena o Thomazinho ter morrido. Ele tinha muito a contar.
Ele falava pouco. E o pouco que ele falava era lei. Ele nunca foi proprietário, mas começou como juiz de partida e entendia muito de turfe.
Houve na época uma cavalo famoso, mas não foi um grande cavalo. Era o Mossoró, ganhador do 1º Grande Prêmio Brasil e era nacional, do proprietário das Casas Pernambucanas, Haras Maranguape.
Ganhei quase 2.000 corridas até 1946. Depois não contei mais. Parei de montar em 1960. A Associação dos Cronistas me presenteou com um quadro, quando completei 50 anos de turfe. Fui também professor da Escola de Aprendizes. Houve um antes, falecido já. Era chileno também, Ramon Pacheco.
Eu me casei em São Paulo e do Chile só vieram morar aqui, minha mãe e minha tia. Um outro fato curioso foi que me apelidaram de “Buster Keaton”, porque eu não sorria nas fotografias. Os cariocas não gostavam muito de mim, inventavam fofocas porque achavam que só os jóqueis do Rio eram bons, que lá não deveria correr jóquei de São Paulo. Uma vez eu estava supenso e corria uma égua “barbada” e o Dr. Linneo queria que eu fosse correr lá. Os jóqueis fizeram um escândalo por isso. Mas fui e venci.
LUIZ GONZALEZ nasceu no Chile, em 16 de maio de 1909 e faleceu em São Paulo, no dia 10 de maio de 1990.
MEMÓRIAS – JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO (Caetano B. Liberatore)
“O cavalo da minha vida foi o tordilho Funny Boy”
A vida de LUIZ GONZALEZ, um dos maiores jóqueis de todos os tempos no Brasil
LUIZ GONZALEZ inicia sua história:
- Comecei a montar no Brasil, tão logo cheguei a São Paulo, em março de 1932. Fiquei ali quase 10 anos, isso porque a Moóca terminou em 1940 e Cidade Jardim foi inaugurada em 1941.
Na minha família meu pai tomava conta de haras. Eu já nasci no ramo. Dizem que eu fui um bom jóquei.
Bom, em primeiro lugar precisa-se nascer um bom jóquei, assim como todo grande jogador precisa nascer para a profissão e com o tempo a pessoa vai vendo um grande jóquei correr, baseando-se naquela pessoa, vendo tudo o que ela faz, acumulando e acumulando coisas. É como um tipo de escola, porque não?.... No meu tempo não tinha escola. Aprendia-se vendo apenas. Dos bons jóqueis chilenos, dois, três deles vieram para São Paulo. Todos já são falecidos, o Andrés Molina foi o último.
Há uma tradição muito grande de turfe no Chile, eu acho que isso dever ser a influencia existencial de bons jóqueis. Há inclusive a presença inglesa no Chile que é maior do que aqui.
Como naqueles tempos não havia condução, o transporte no interior era só o cavalo. Aqueles meninos que eram mandados para a cidade, para fazer qualquer coisa, iam a cavalo. Montava-se como índio, sem selim, sem nada. Então parecia por lá o proprietário da fazenda, julgando os garotos, este tem jeito, este não. Agora havia muito menino, dava para escolher e os que ele achava que não davam e só queriam sair do lugar já mandava embora porque tinha gente demais. Os bons ficavam.
Eu comecei a montar lá como aprendiz. Quando vim para cá já era profissional. Aconteceu que o jóquei Andrés Molina fraturou uma perna num treino e o proprietário para quem ele montava, um banqueiro chamado Erasmo de Assumpção Almeida Prado, pediu ao Chile, um jóquei para São Paulo. Viria um jóquei que tinha estado no Rio de Janeiro, o Enrique Rodrigues. Como eu já estava ficando muito pesado, ele disse, “olha eu tenho aqui uma carta do Brasil pedindo um jóquei nessas condições, você quer ir?” E isso foi em 1932.
Naquela época era bem mais comum do que hoje os proprietários contratarem os jóqueis de uma forma fixa. Eu acho que era melhor para todos, proprietários e profissionais.
Uma das coisas que me preocupa até hoje é ver o jóquei ficar dependendo do proprietário convidar, vivendo de comissão. Eu não consigo entender por que houve essa mudança, porque vários dos antigos jóqueis eram contratados, eu acho que era um sistema muito melhor.
Um jóquei tem de conhecer o cavalo e isto é muito importante porque ele monta o cavalo hoje – o cavalo não ganha, ela vai saber da corrida o que aconteceu com o cavalo, em termos técnicos, e na próxima corrida ele tem jeito de consertar, de fazer o cavalo render mais. Se por acaso o proprietário descontente muda porque o jóquei não ganhou, o próximo jóquei, por melhor que seja, vai se deparar com os mesmos problemas não corrigidos do cavalo, quer dizer, aqueles problemas para ele serão novidades que também não vai saber enfrentar. Mas se o cavalo perdeu por peripécias de corrida, vamos dizer, largou mal, ficou “encaixotado”, então fecha a curva, vem lá por fora de todo mundo, se reparou nisso, ela vai corrigir, vai tratar de sair junto, pelo menos sair junto. É o mínimo que o jóquei tem que saber. Se não sair na frente, sair junto. E se colocar de acordo com as condições do cavalo.
Um jóquei tem que assistir a tantas corridas quanto possível para entender e ver o desempenho dos animais. Assim ele sabe o principal, sabe como o animal corre, como ele gosta de correr, se na frente, se colocado em 3º ou 4º ou então lá atrás. Não tem importância que esteja lá atrás, porque ele vem no final. Existem jóqueis que fazem, erradamente o vencedor lá pelos 1.000 metros. Existe também o cavalo que vem disparado. Então, há todas essas coisas que a gente tem que reparar no páreo, tem de estudar a corrida. Do cavalo até o jóquei é uma ciência, é uma arte. Quer dizer, a gente tem de estudar todos os cavalos que estão correndo, lembrar de como normalmente eles correm, quem são os jóqueis, como eles lidam com os cavalos e saber como mexer com tudo isso de uma só vez. O hábito do jóquei também é importante, porque tem jóqueis que são nervosos, por que se tem cavalo na frente, se vem em 3º ou 4º ele não espera a reta e faltando muita distancia, já instiga o animal indo para a reta disparado. Isso as vezes é contraproducente, porque tira o animal do normal dele. Houve um cavalo que corria na Moóca, o nome dele era Darbolito, filho da Arbolada. Era um cavalinho que largava sempre em ultimo e corria em 4º ou 5º até a metade da corrida, e de repente ele disparava e passava na frente de todo mundo. Eu acho ate que era um tordilho.
O cavalo que eu montei e do qual mais gostei, quer dizer, com o qual mais me entendi no trabalho foi na Moóca. Ele começou ali. Era o Funny Boy.
Esse foi um bonito cavalo, foi até tríplice coroado na Moóca. Ganhou também no Rio. Funny Boy era um animal que corria em qualquer lugar. Se eu queria correr na frente, em 2º, quando procurava por ele, ele vinha, era um craque. Um craque completo.
Como disputa pessoal houve um caso em Cidade Jardim, precisamente contra o meu rival naquela época, Pierre Vaz. Foram dois páreos seguidos, mas uma coincidência. No primeiro ele veio de trás, passou-me, me dominou por mais ou menos pescoço e daí faltando uns 50 metros eu procurei por todo animal. Cheguei no fim e ganhei de cabeça dele. No páreo seguinte montamos de novo e foi idêntico. Eu vinha na frente, ele dominou mais a uns 50 metros do disco procurei pelo meu cavalo e ganhei de novo.
Não lembro quais cavalos eram, não eram cavalos de grande categoria. Parece que foi 3º e 4º páreos. Pierre era meu competidor de estatística, e às vezes a gente é muito feliz. Na Moóca houve uma tarde de domingo que eu ganhei 6 páreos. Ganhei 6 dos 6 páreos do dia. Em Cidade Jardim ganhei várias vezes 5 corridas num só dia.
Agora em termos de Grandes Prêmios, o mais emocionante para mim foi o Grande Prêmio Brasil com o Albatroz, um grande cavalo. O jóquei que montava era outro chileno, o Zuniga, radicado no Rio e ele na semana machucou o pé. O Dr. Francisco, filho do Dr. Linneo, que inaugurou o Hipódromo da Gávea, me chamou. “Você precisa vir montar no Grande Prêmio”. Albatroz era um dos favoritos e acabou ganhando. Uma coisa que eu nem esperava.
O Albatroz ganhou 2 Grandes Prêmios Brasil seguidos e no meio um Grande Prêmio São Paulo. Aquela do Rio foi a última corrida dele. Estava no limite de idade para correr.
Eu lembro de alguns cavalinhos que acompanhei desde o começo, de potrinho. Houve um especial como já disse, o Funny Boy. Era todilho, grande cavalo!
Era do Haras São José & Expedictus. Ele ganhou no Rio. O proprietário esta sempre de grande gala.
Houve quem dissesse que eu era melhor que o Luiz Rigoni, mais eu acho que não. Sabe o que é, no Rio se vive para duas coisas: o futebol – que como o carioca não tem – e o resto é corrida. Eles são fanáticos – tanto no futebol, quanto no turfe. E lá tem entusiasmo. Aqui o público é um pouco mais seco. Bate palmas, reconhece, mas não se entusiasma. O Hipódromo da Gávea é bonito, se bem que eu acho que quando o jóquei está no cavalo, não vê nada ao lado.
Durante minha vida em São Paulo eu montei 19 anos para o mesmo proprietário – o Dr. Linneo. Ele tinha duas fazendas, em Rio Claro e em Botucatu. Era uma criatura muito generosa, pelo que eu fiquei sabendo e vi. No Rio, o hipódromo era onde está o Maracanã. Então o Dr. Linneo vendeu aquele terreno, e comprou o terreno da Gávea. E naquele tempo ela “mandava”. Ele conseguiu o pedaço da Lagoa Rodrigo de Freitas, que aterrou, porque o lado de cá tinha um morro e uma avenida. E para conseguir formar o programa tinha a sua farda (ouro com costuras azuis), tinha uma farda com o secretário dele, e ele mesmos dizia “Você vai ficar com essa farda”. Tinha um que era Diretor do Jockey. Então ele dava as fardas para poder formar os páreos. Quando corriam 7 cavalos, pode-se dizer que 5 eram dele. Só que corriam com fardas diferentes. Isso era no inicio. Depois começaram a surgir mais proprietários e a coisa se desenvolveu.
Este outro cavalo aqui na foto é o Quati. Mas não era criação do Linneo. Era um alazão grande do qual toda a gente gostava. Na despedida dele eu montei. Só correu ele em 3218 metros, prêmio Rei da Raia Paulista. Fiz o percurso inteiro sob palmas. Valeu!
Houve um caso interessante num Grande Prêmio São Paulo. Houve um mal entendido com meu patrão, porque o cavalo dele corria com 53 quilos e eu não fazia esse peso nem cortando uma perna. Eu disse “Dr. , 53 eu não faço”. “Não! Se você fizer 53 monta o cavalo”. Ele sabia que eu não conseguiria. Então trouxe um jóquei do Rio. A imprensa que estava do meu lado começou a falar que eu poderia montar o Guaraz, de outro proprietário para competir com aquele cavalo que eu não poderia montar por causa do peso. Então, precisava de uma ordem do Dr. Francisco Eduardo de Paula Machado que era meu patrão, e por pressão da imprensa ele concordou. Infelizmente acabei perdendo para um cavalo que montava o Rigoni. Quando passava antes do páreo vi que o cavalo do Rigoni pisava mal e eu achava que ele não conseguiria correr. Mas ele ganhou......
Contavam também que o Rigoni falou uma coisa gozada. Ele disse que a 1ª corrida que ganhou sobre cavalo meu, passou 5 dias para acreditar.
Eu só tive um filho. Ele é alto e não me seguiu no turfe.
Sabe, tenho uma lembrança. Quando ele nasceu, foi um sábado. Era a 1ª vez que o Funny Boy corria. E tinha uma fita de partida, não era como agora que existe o partidor elétrico. O Thomazinho era quem dava a largada. E perto era cheio de arvores, no caminho do Paddock, porque a cocheira ficava fora, na rua, a uns 100 metros dali. Levamos o cavalo na fita e tinha também vários potros que não haviam ainda corrido. Ele largou, saiu na frente. E ao invés de correr na pista procurou o caminho para a cocheira. Eu caí no barro e até fiquei assustado achando que tinha me quebrado todo. A velocidade que este animal saiu correndo foi incrível. Na reprodução ele sumiu, não sei o que aconteceu.
Foi uma pena o Thomazinho ter morrido. Ele tinha muito a contar.
Ele falava pouco. E o pouco que ele falava era lei. Ele nunca foi proprietário, mas começou como juiz de partida e entendia muito de turfe.
Houve na época uma cavalo famoso, mas não foi um grande cavalo. Era o Mossoró, ganhador do 1º Grande Prêmio Brasil e era nacional, do proprietário das Casas Pernambucanas, Haras Maranguape.
Ganhei quase 2.000 corridas até 1946. Depois não contei mais. Parei de montar em 1960. A Associação dos Cronistas me presenteou com um quadro, quando completei 50 anos de turfe. Fui também professor da Escola de Aprendizes. Houve um antes, falecido já. Era chileno também, Ramon Pacheco.
Eu me casei em São Paulo e do Chile só vieram morar aqui, minha mãe e minha tia. Um outro fato curioso foi que me apelidaram de “Buster Keaton”, porque eu não sorria nas fotografias. Os cariocas não gostavam muito de mim, inventavam fofocas porque achavam que só os jóqueis do Rio eram bons, que lá não deveria correr jóquei de São Paulo. Uma vez eu estava supenso e corria uma égua “barbada” e o Dr. Linneo queria que eu fosse correr lá. Os jóqueis fizeram um escândalo por isso. Mas fui e venci.
LUIZ GONZALEZ nasceu no Chile, em 16 de maio de 1909 e faleceu em São Paulo, no dia 10 de maio de 1990.
28 dezembro 2011
Cavalo dos Pampas - Gerson Gaúcho
Chegamos a última reunião do ano no cristal, e creio ser de todo o brasil também.... e lembramos ainda que dia 07/01 começa mais um torneio aqui no blog com grandiosa premiação e aberto a todos que quiserem participar, conforme regulamento no blog. vamos as dicas então, e tomara termos muitos acertos nessa quinta feira no cristal:
1° páreo: 5 / 2 / 3.
2° páreo: 1 / 4 / 5.
3° páreo: 7 / 3 / 1.
4° páreo: 3 / 8 / 5.
5° páreo: 4 / 7 / 5.
6° páreo: 3 / 7 / 5.
7° páreo: 7 / 4 / 1.
8° páreo: 5 / 3 / 6.
9° páreo: 2 / 8 / 1.
10°páreo: 11/ 12/ 2.
Uma acumulada de placê para ajudar no festejo de ano novo: SELO OLÍMPICO / TINA WIN / RED CLOWN / TAMBORIN. Abraços a todos e ótimo ano novo, Gerson gaúcho.
26 dezembro 2011
24 dezembro 2011
23 dezembro 2011
Considerações finais sobre o II Torneio de Catedráticos
Terminou o II Torneio de Catedráticos. Vitória de forma maiúscula de Fábio Leon. Fábio merece o título de maior catedrático dentre os catedráticos, pois o seu papel não deixa dúvidas sobre isso. Consegue aliar a solidez dos momentos difíceis, com raras sacadas de cavalos escondidos. Enfim, um grande campeão. Parabéns também ao Marcos Figueiredo, que manteve a disputa acirrada até a última reunião. Outro que enxergou pules preciosas (muitos outros enxergaram, mas creio que a virtude está em combinar lampejos, com a simplicidade do "feijão com arroz", que é o que faz ganhar torneios). Completaram o marcador remunerado: Kelvin Turrin, Evaldo Caixeta e Paulo Aguilar. Amanhã, com mais calma, somarei os prêmios, pois há mais 510 reais dos prêmios do Stud Figuron & Varanda que vão entrar no rateio total. Entro em contato, via email, com os participantes. Agradeço a todos os participantes e já deixo o convite para o III Torneio de Catedráticos, com começo em 7 de Janeiro. Feliz Natal turfistas.
Indicações
21 dezembro 2011
Cavalo dos Pampas - Gerson Gaucho
Boa sorte a todos os turfistas nas corridas dessa quinta, e desde já quero desejar um ótimo natal a todos os turfistas, em especial ao meu amigo aron, quero também estender aos amigos do blog do nixon, e do blog do amigo cd (ele e o matemático no comando), pessoas que conheci atrvés do turfe, e tenho uma admiração por todos eles,não esquecendo do amigo de longe, adriano soares, entre outros tantos... pois é muito bom podermos conversar sobre o turfe e trocar idéias das corridas com os amigos. saúde, feliz natal e paz a todos!!!! vamos com as dicas para essa quinta então:
1° páreo: 4- 3- 5.
2° páreo: 4 - 3- 7.
3° páreo: 2- 4- 6.
4° páreo: 4- 6- 1.
5° páreo: 4- 6 - 2.
6° páreo: 4 - 2 - 3.
7° páreo: 4- 1 - 7.
8° páreo: 7 - 4 - 2.
9° páreo: 8- 7 - 2.
10° páreo: 2- 6- 8.
Analisando os meus estudos e palpites me deparei que a numerologia par esta bem forte para essa quinta feira, ao menos na teoria é claro.. rsrsrs. abaixo vou deixar uma acumulada de placê com as dicas que considero as melhores, e espero ter um melhor aproveitamento, inclusive o amigo de longe me cobrou isso.... vamos tentar, e torça para os números par então caro de longe, para vingar minha acumulada... abraços a todos, Gerson gaúcho.
THE FALCON (1°P- 4) DOM STEEL ( 3°P- 2) RED CLOWN (7°P- 4) EU TE AMO (9°P - 8).
20 dezembro 2011
Sobre os próximos torneios
A partir de Janeiro, o próximo começa no dia 7, os torneios de catedráticos terão um regulamento fixo e serão contínuos. Serão sempre doze reuniões com uma semana de folga e novo torneio com o mesmo número de reuniões. Antes do Ano Novo, o regulamento já vai constar das postagens do blog.
Tem muita gente querendo torneio misto com as corridas de Cidade Jardim e Gávea, o que não vai ser possível. O que eu colocarei em prática é fazer um torneio somente da Gávea, com o mesmo regulamento do Torneio de Catedráticos, mas com duração de um final de semana. Então, termos o III Torneio de Catedráticos durante todo mês de Janeiro, e de 2 a 5 de Fevereiro, o Torneio da Gávea.
Tem muita gente querendo torneio misto com as corridas de Cidade Jardim e Gávea, o que não vai ser possível. O que eu colocarei em prática é fazer um torneio somente da Gávea, com o mesmo regulamento do Torneio de Catedráticos, mas com duração de um final de semana. Então, termos o III Torneio de Catedráticos durante todo mês de Janeiro, e de 2 a 5 de Fevereiro, o Torneio da Gávea.
19 dezembro 2011
Indicações
18 dezembro 2011
Desferrados, não
Matéria de minha autoria que saiu na revista Horse, no suplemento Puro Sangue Ingês. Estamos martelando contra os desferrados...
Toda a atividade, a partir do momento que principia, conta-nos uma história. A história do Turfe é relativamente nova, mas com um amplo leque de temas que a compõe. Vou me ater a um deles, a questão do nivelamento dos páreos. Desde quando surgiu na Inglaterra, no século XVII, a preocupação em deixar as corridas mais equilibradas é matéria de lei. Foi assim que surgiram as chamadas: perdedores contra perdedores, ganhadores contra ganhadores e assim sucessivamente, até chegarmos aos Grande Prêmios. Foram separados machos de fêmeas. Separaram-se, ainda, os animais por faixa de idade. Tudo com um único objetivo. O de equilibrar a contenda. Toda a graça do esporte está intimamente ligada a estes agrupamentos. Corridas acirradas e com todos os competidores lutando palmo a palmo pela vitória são de uma beleza plástica indescritível e fazem parte da essência do turfe. Para um dos seus setores mais importantes, o das apostas, motor da atividade, significa maior volume de jogos. Ninguém apostaria em páreos em que as diferenças técnicas entre os competidores fossem flagrantes a ponto de transformar as corridas em jogo de cartas marcadas e em que se produzissem infindáveis pules de devolução de capital que sempre se saíssem vitoriosas. O interesse pelo jogo acabaria e as consequências para a atividade não seriam difíceis de se prever.
Com o tempo foram surgindo diversos acessórios para os cavalos utilizarem nas corridas. Antolhos, arminhos, rosetas e línguas amarradas fazem parte desta lista. Aqui gostaria de dar ênfase a um dos pontos principais que este artigo defende. Todos estes acessórios têm por objetivo atenuar baldas ou problemas físicos do atleta, dando possibilidades aos mesmos de poderem manifestar da forma mais ampla possível, o seu poderio locomotor. Nenhuma destas ferramentas por si só, aumenta a capacidade de correr de qualquer animal. Notem que não me refiro aqui a celas, selins, cilhas, arreamentos e ferraduras, pois estas são o uniforme do atleta e já se faziam presentes quando da realização das primeiras provas em terras inglesas. E se se mantêm presentes depois de quatro séculos de prática esportiva, não podemos lhes negar a importância.
Aprofundando um pouco no tema, vamos dissertar sobre um destes componentes: as ferraduras. Antes de mais nada, permitam-me o óbvio. Ferraduras foram inventadas para proteger os cascos dos cavalos. E aqui mais um ponto citado no parágrafo anterior, que gostaria de deixar bem claro: ferradura não é acessório, pois enquanto este corrige problema de alguns exemplares, aquela previne o que pode vir a ser o problema de todos. Não quero me ater demais a esta parte física da questão, embora seja importante salientar o fato de que não são apenas corredores com cascos extremamente saudáveis que atuam deste modo nos hipódromos brasileiros, motivo suficiente para proibir a prática, já que as ocorrências de cascos danificados e consequente interrupção na carreira dos atletas para reparos clínicos são bem significativas. Parece claro: se danifica ou pode vir a danificar, refuta o argumento de que “desferrar é permitido para todos”. Ninguém que tenha preocupação com seu animal, vai usar de artifício que possa lhe comprometer a saúde ou a sua carreira como atleta.
Foco mais pelo lado competitivo. Quando toda a história nos mostra a incessante busca pelo nivelamento dos páreos, eis que o Brasil se deu o direito, talvez, de ser o único país do mundo onde se permita correr cavalos desferrados. Isso vai totalmente de encontro a tudo que expomos acima. E o motivos é apenas um: está provado que há aumento de desempenho para quem atua sem ferraduras na pista de grama. Não é vantagem que se possa quantificar, tudo depende da distância da prova e do estado da grama. Usando o quilômetro como base, não creio ser menor do que meio segundo a melhora da performance. Algo por volta de três corpos, fator decisivo para alterar o resultado de qualquer páreo.
Especificamente em Cidade Jardim, as vantagens são ainda maiores. Nos casos em que é afixado Grama Macia como raia de programa, treinadores que possuem animais inscritos da metade da programação em diante, podem verificar pela prática nos páreos anteriores, se a grama está em boas condições para correr sem ferraduras e só então decidir pelo uso das mesmas ou não. Ou seja, aos desferrados permite-se tudo. Pensem no oposto: dar o direito de ferrados optarem por correr desferrados durante a programação. Pareceu justo? Em caso positivo, desprezem definitivamente estas linhas.
Toda a atividade, a partir do momento que principia, conta-nos uma história. A história do Turfe é relativamente nova, mas com um amplo leque de temas que a compõe. Vou me ater a um deles, a questão do nivelamento dos páreos. Desde quando surgiu na Inglaterra, no século XVII, a preocupação em deixar as corridas mais equilibradas é matéria de lei. Foi assim que surgiram as chamadas: perdedores contra perdedores, ganhadores contra ganhadores e assim sucessivamente, até chegarmos aos Grande Prêmios. Foram separados machos de fêmeas. Separaram-se, ainda, os animais por faixa de idade. Tudo com um único objetivo. O de equilibrar a contenda. Toda a graça do esporte está intimamente ligada a estes agrupamentos. Corridas acirradas e com todos os competidores lutando palmo a palmo pela vitória são de uma beleza plástica indescritível e fazem parte da essência do turfe. Para um dos seus setores mais importantes, o das apostas, motor da atividade, significa maior volume de jogos. Ninguém apostaria em páreos em que as diferenças técnicas entre os competidores fossem flagrantes a ponto de transformar as corridas em jogo de cartas marcadas e em que se produzissem infindáveis pules de devolução de capital que sempre se saíssem vitoriosas. O interesse pelo jogo acabaria e as consequências para a atividade não seriam difíceis de se prever.
Com o tempo foram surgindo diversos acessórios para os cavalos utilizarem nas corridas. Antolhos, arminhos, rosetas e línguas amarradas fazem parte desta lista. Aqui gostaria de dar ênfase a um dos pontos principais que este artigo defende. Todos estes acessórios têm por objetivo atenuar baldas ou problemas físicos do atleta, dando possibilidades aos mesmos de poderem manifestar da forma mais ampla possível, o seu poderio locomotor. Nenhuma destas ferramentas por si só, aumenta a capacidade de correr de qualquer animal. Notem que não me refiro aqui a celas, selins, cilhas, arreamentos e ferraduras, pois estas são o uniforme do atleta e já se faziam presentes quando da realização das primeiras provas em terras inglesas. E se se mantêm presentes depois de quatro séculos de prática esportiva, não podemos lhes negar a importância.
Aprofundando um pouco no tema, vamos dissertar sobre um destes componentes: as ferraduras. Antes de mais nada, permitam-me o óbvio. Ferraduras foram inventadas para proteger os cascos dos cavalos. E aqui mais um ponto citado no parágrafo anterior, que gostaria de deixar bem claro: ferradura não é acessório, pois enquanto este corrige problema de alguns exemplares, aquela previne o que pode vir a ser o problema de todos. Não quero me ater demais a esta parte física da questão, embora seja importante salientar o fato de que não são apenas corredores com cascos extremamente saudáveis que atuam deste modo nos hipódromos brasileiros, motivo suficiente para proibir a prática, já que as ocorrências de cascos danificados e consequente interrupção na carreira dos atletas para reparos clínicos são bem significativas. Parece claro: se danifica ou pode vir a danificar, refuta o argumento de que “desferrar é permitido para todos”. Ninguém que tenha preocupação com seu animal, vai usar de artifício que possa lhe comprometer a saúde ou a sua carreira como atleta.
Foco mais pelo lado competitivo. Quando toda a história nos mostra a incessante busca pelo nivelamento dos páreos, eis que o Brasil se deu o direito, talvez, de ser o único país do mundo onde se permita correr cavalos desferrados. Isso vai totalmente de encontro a tudo que expomos acima. E o motivos é apenas um: está provado que há aumento de desempenho para quem atua sem ferraduras na pista de grama. Não é vantagem que se possa quantificar, tudo depende da distância da prova e do estado da grama. Usando o quilômetro como base, não creio ser menor do que meio segundo a melhora da performance. Algo por volta de três corpos, fator decisivo para alterar o resultado de qualquer páreo.
Especificamente em Cidade Jardim, as vantagens são ainda maiores. Nos casos em que é afixado Grama Macia como raia de programa, treinadores que possuem animais inscritos da metade da programação em diante, podem verificar pela prática nos páreos anteriores, se a grama está em boas condições para correr sem ferraduras e só então decidir pelo uso das mesmas ou não. Ou seja, aos desferrados permite-se tudo. Pensem no oposto: dar o direito de ferrados optarem por correr desferrados durante a programação. Pareceu justo? Em caso positivo, desprezem definitivamente estas linhas.
17 dezembro 2011
16 dezembro 2011
15 dezembro 2011
Cavalo dos Pampas - Gerson Gaúcho
Vamos com as dicas para mais uma quinta de corridas no cristal, lembrando com muita tristeza a morte do querido Sayão Lobato, ocorrida ontem terça feira, pessoa muito querida no meio turfístico e jornalístico,e fazia parte da equipe de transmissão das corridas do cristal, desejamos a sua família todos nossos sentimentos e força nessa hora difícil, mas a vida tem de seguir. abaixo, vamos com as dicas então:
1° páreo: 6- 4- 7
2° páreo: 3- 1- 5
3° páreo: 6- 1- 2
4° páreo: 1- 4- 7
5° páreo: 1- 5- 7
6° páreo: 7- 5- 6
7° páreo: 5- 3- 1
8° páreo: 1- 8- 5
9° páreo: 10- 3- 2- 7.
10°
páreo: 4- 6- 5- 3. boa sorte a todos, e abaixo irei deixar uma
acumulada com 4 placês que considero os melhores da reunião. abraços,
GERSON GAÚCHO.
YLLE DI JOSEFINE / LADY JACK / HIPNOTICADA / CAMPO D`UNA .
Notícias do Pellegrini
* A americana Perfect Shirl está fora do Pellegrini. Segundo informações obtidas, houve muita demora no traslado para a viagem e o treinador Roger Attfield resolveu não embarcar a americana.
* Altair Domingos, monta preferencial da Caballeriza La Providencia, optou por dirigir Video Game no GP, deixando jumbalaya para julio cesar mendez .A escolha se deu após o piloto trabalhar os dois animais. Tomara que a decisão tenha sido a correta.
* Altair Domingos, monta preferencial da Caballeriza La Providencia, optou por dirigir Video Game no GP, deixando jumbalaya para julio cesar mendez .A escolha se deu após o piloto trabalhar os dois animais. Tomara que a decisão tenha sido a correta.
Pierre Vaz - III
Porque senão
......
Eu estava
ganhando, como não!
Ganhando corrida e montando
bastante. Montei 16 páreos
na ultima semana que
deixei a profissão.
Eu era
um jóquei procurado para
montar. Eu deixei, vamos
dizer assim, sem mágoa
alguma, não tenho mágoa
nenhuma do turfe. Nada,
nada.
O Rigoni
disse que para encerrar
sua carreira, sempre me
usou muito como exemplo
de cidadão. As coisas
que eu fazia.... anotava
tudo para fazer igual.
Ele está
bem. Foi outro que
teve juízo.
Sofreu um
golpe muito grande. Ele
foi hospitalizado com a
espinha trincada. Foi um
ano de hospital.
Eu também
tive uma queda perigosa.
Tive muitas, mas graças
a Deus, fraturei pé,
fraturei os 2 pés,
o braço, fraturei um
dedo e o nariz,
mas eu sempre ficava
1 mês, 1 mês
e 40 dias, e
voltava a profissão.
Sofria
algumas quedas mas menos
violentas, inclusive uma
que o cavalo caiu
morto. Era o cavalo
Viramundo, do Linneo de
Paula Machado. Morreu
correndo num páreo
noturno. Teve um ataque
cardíaco e caiu morto
em frente da arquibancada.
Eu não me machuquei
nada, nada. Quando eu
via que ele ia
se atirar em cima
da cerca, porque ficou
cego, pulei “seja o
que Deu quiser” pensei,
mas eu não posso
ficar em cima dele,
via entrar na cerca,
vai me espetar num
pau desses, me matar.
Ele morreu
do meu lado, sem
pôr uma gota de
sangue pelo nariz. No
dia seguinte fui convidado
pelo veterinário, que
estava fazendo a autópsia,
para ver o coração
do animal; tinha partido
no meio.
O Treinador
era o Andrés Molina;
o cavalo não aparentava
ser doente. Eu tinha
ganho com ele 15
dias antes. Foi como
se uma pessoa tivesse
um infarto violento, um
ataque cardíaco. Ele teve
correndo.
Eu senti
quando morreu o Boticão
de Ouro. Ele sofreu,
foi operado. Mas parece
que dava para ser
ter percebido que tinha
alguma coisa, por que
o jóquei no Rio
já notara e não
queira montar. Aquilo foi
um pouco de vaidade
do proprietário que não
quis tirar o cavalo
da pista. Ele teve
uma oferta muito grande
para os Estados Unidos,
em dólar, e queira
ver se o cavalo
ganhava aquela corrida para
aumentar o preço; aquilo
foi um pouco de
ganância.
Me falaram
que o jóquei do
Rio percebeu que o
cavalo não estava bem
e mandou fazer o
exame; fazer tudo e
o dono não tomou
providencia nenhuma e
colocou o cavalo para
correr. Depois ele culpou
o jóquei.
Olha tem
um caso inédito que
aconteceu comigo.
Eu ia
muito ao cinema. Minha
diversão predileta era ir
ao cinema à noite
com a minha senhora.
Eu estava
dirigindo no coração de
São Paulo, Avenida São
João com a Ipiranga.
Meu carro era muito
conhecido naquela época,
eu tinha um Pontiac
muito bonito e a
minha placa era
conhecidíssima, 8913. Ia
pela Avenida São João
e o sinal estava
verde; de repente ficou
vermelho e eu parei
em cima e comentei
com a minha mulher:
“que guarda louco, se
vem um meio ligeiro
atrás pode me abalroar”.
E o guarda saiu
do farol, que naquele
tempo era manejado por
ele.
Minha
mulher falou: “ele vem
te multar”. Eu
digo: “é só o
que me faltava ele
vir me multar, ele
fechou o sinal comigo
em cima da Avenida
São João, num movimento
desse! E ele veio,
chegou para mim e
disse: “Seu Pierre, por
favor, me dê três
barbadas para amanhã,
porque eu estou devendo
2 meses de aluguel.”
Me parou o transito
para pedir palpites.
Na hora
me lembrei de 3
cavalos: um montava o
Gonzalez, que eu não
me lembro mais o
número ou nome, um
montava eu, que era
do Haras Jaberave, chamado
Mosco, esse eu nunca
me esqueço, e um
outro também que não
me lembro. “Toma nota
desses três cavalos, mas
não para mais o
transito para me pedir
palpite” “Ah! Muito
obrigado”, disse ele
e fui embora.
Aí
estacionei o carro e
fui ao cinema. No
dia seguinte era o
dia das corridas. Ganharam
os três cavalos.
Quando foi
à noite, eu estava
jantando, tocou a campainha
da minha casa. Minha
empregada foi atender e
disse: “Tem um guarda
aí que quer falar
com o senhor e
tem um pacote na
mão. Perguntei: “um
guarda”? ”é um
guarda, fardado” Eu
levantei e fui atender:
era o guarda de
transito. “Seu Pierre,
olha aí, eu trouxe
uns doces para o
senhor de presente. Eu
acertei, vou pagar o
aluguel de casa”.
Eu mesmo
nunca apostava. Amigos meus
que queriam apostar no
meu cavalo eu dava
palpite, porque quando
ganhavam eles me
gratificavam. Mas o meu
dinheiro não! Meu dinheiro
era suado. Eu arriscava
minha vida para ganhar
o dinheiro, não ia
arriscar no jogo. O
jogo é muito difícil.
Numa
ocasião, uma pessoa me
parou na rua e
pediu um palpite; “olha
Pierre, me dê duas
barbadas que eu jogo
5 contos para nós,
5 mil cruzeiros e
repartimos o lucro”.
Eu respondi: “você dá
uma que eu jogo
10 e reparto o
lucro com você”
“Você
pensa que é fácil
barbada?” Se fosse, todo
jóquei era rico. Quanto
colega meu jogava e
morreu sem nada. Tem
o caso do famoso
jóquei, Armando Rosa, que
ganhou duas vezes do
Grande Prêmio Brasil.
Mora no
Rio hoje num Box,
numa cocheira. Foi um
jóquei famoso, mas era
um jogador inveterado.
O que
ele ganhava ele jogava.
E acabou sem nada,
não tem uma casa
para morar, não tem
nada. Está com quase
80 anos de idade
e mora numa cocheira
no Rio de Janeiro.
Eu tive
um exemplo vivo dentro
da minha profissão que
foi meu pai. Ele
ganhou muita corrida, e
quando morreu, nem dinheiro
para o enterro nós
tínhamos. Foi preciso os
amigos ajudarem.
Eu estava
no Paraná mas eu
me lembro que minha
mãe contava que foi
preciso apelar aos amigos
para arranjar dinheiro para
fazer o enterro.
E eu,
pensando nisso, tinha medo.
Ah! Lembro
também da moçada bonita
em dias de corrida.
As mulheres
se vestiam maravilhosamente
bem. De chapéu, luvas
até cotovelo, aquela
coisa.....
Era uma
festa, até fraque e
cartola. Me lembro do
Linneo de Paula Machado
que chegou a usar
cartola.
Comparecei
de cartola. Uma vez,
ele deu um banho
de champagne no cavalo
depois da corrida. Abriu
a garrafa e jogou
no lombo do cavalo.
Isso tudo era o
Turfe. Hoje, o turfe
gira em torno de
jogo; não é aquele
amor que existia
antigamente. Hoje é mais
jogo.
Mas eu
me lembro bem dos
Grandes Prêmios. Aquelas
senhoras bem vestidas no
Grande Prêmio Brasil que
eu ganhei.
Tenho uma
fotografia do Miron saindo
da pista com o
Sr. José Paulino Nogueira
segurando-o pela rédea.
Eu nunca
me interessei por corrida
de automóvel.
Não gosto,
até hoje não gosto.
Acho aquilo uma violência.
A corrida
de cavalo também é
perigosa, mas é um
esporte nobre. O animal
se empenha, e a
gente sente no pé
o coração dele bater
na hora da partida.
Ele fica nervoso quando
a gente estriba.
O pé
do jóquei fica na
altura do coração do
cavalo. A gente sente
aquela batida, o animal
fica nervoso na partida,
esperando a hora de
largar.
Isso é
emocionante. Não é uma
máquina que você finca
o pé no acelerador.
O Cavalo se empenha
a fundo; tem cavalo
que chega a morrer
como morreu o cavalo
Viramundo, comigo.
Chega a
morrer do esforço que
faz para correr. Ele
dá tudo de si.
Tanto que eu lhe
digo, o jóquei é
obrigado, às vezes, a
chicotear o cavalo. O
público não entende. Se
um jóquei não chicotear,
ele acha que não
está se empenhando pela
vitória.
Mas o
cavalo, 90% das vezes,
não necessita ser
castigado para se empenhar.
Se empenha a fundo,
nasceu para isso. É
corredor nato. Ele sabe
que tem que correr,
e isso que é
bonito no turfe.
Houve um
cavalinho que corria sempre
atrasado, no último lugar,
e de repente, no
fim, ele atropelava todo
mundo, acho que chamava....
esqueci...
Era
tordilho do Sr. Paulino
Nogueira. Corria ultimo,
longe sempre. No final
ele vinha, vinha, era
um cavalo que tinha
fôlego.
Não é
que ele vinha, é
que os outros diminuíam
porque cansavam e ele
conservava o mesmo ritmo.
Então ele vinha alcançando
os outros.
Eu ganhei
muitas corridas com animais
assim, inclusive um cavalo
que era de propriedade
do Dr. José Bonifácio
Coutinho Nogueira, chamado
Gibelino. É, o Gibelino
tinha esse estilo de
correr. Ele corria atrás,
sempre atrás. Largava lá,
último, e no final
vinha alcançando os outros
e ganhava, e quando
não ganhava, chegava
colocado.
Ainda
acompanho o turfe: compro
revista de São Paulo
toda semana. Tenho assim
um fundo sentimental, mais
para ver aqueles jóqueis
antigos, que já estão
no ocaso da função
e para ver se
dão montarias a eles.
Infelizmente
o turfe tem isso.
Os proprietários procuram
os jóqueis que estão
ganhando; é um circulo
vicioso. O Barroso, vamos
citar o Barroso que
é um exemplo, é
o jóquei mais vitorioso
aqui. Ele é procurador
pelos proprietários que
têm cavalo bom, cavalo
favorito, cavalo que tem
chance. As vezes, esse
cavalo tirou um 3º
lugar, pilotado por um
jóquei inferior de
categoria, um jóquei que
está ganhando pouco. O
Barroso vai lá e
pede a montaria. Então
o proprietário dá a
montaria para o Barroso,
dá preferência.
É um
circulo vicioso; o jóquei
bom é procurado par
montar um cavalo bom
e ganha a corrida.
E é quase sempre
o jóquei vitorioso que
procura o cavalo que
tem chance. Então eu
acho que isso é
uma das ingratidões do
turfe sabe. O profissional
é preterido; ele devia
ter um pouco mais
de amparo, um pouco
mais de consideração por
parte dos proprietários.
O jóquei
não tem ordenado,
geralmente não tem. Ele
ganha comissão, percentagem.
Precisa ganhar a corrida
para ganha a vida.
É muito inseguro. É
por isso que eu
fui sempre assim, digamos,
como se diz na
gíria, um pão-duro na
minha profissão. Eu
guardava o que eu
ganhava. E não me
arrependo disso. Porque se
não como é que
eu poderia ter educado
o meu filho, ter
comprado minhas propriedades,
ter uma estabilização na
vida se não tivesse
guardado o que eu
ganhei? E de idade
ainda posso dizer que
estou bem.
Estou
tranqüilo com tudo o
que fiz, e graças
a Deus fui muito
bem sucedido. Eu sempre
fui um jóquei vitorioso,
felizmente.
14 dezembro 2011
Ligeirinhas
* Jair Balla me informou que, se for permitido pelo fuso horário, serão transmitidas pela TV Jockey, as principais provas que compõe o Festival do GP Pellegrini. Não haverá apostas.
* Para quem quiser saber um pouco da vida do Sayão Lobato, aqui neste link ele conta bastante de sua vida, em uma entrevista para a Rádio Famecos.
* Para quem quiser saber um pouco da vida do Sayão Lobato, aqui neste link ele conta bastante de sua vida, em uma entrevista para a Rádio Famecos.
Pierre Vaz - II
Então chegou a última semana, sábado e domingo. Não havia corrida na 2ª feira.
Foi em 1954. Nós estávamos no sábado empatados, com o mesmo número de vitorias, cada um com 71.
No sábado, o Gonzalez ganhou uma corrida. Fez 72 vitórias.
No domingo o Gonzalez ganhou 2 páreos. Fez 74 vitórias. E eu fiquei com as 71 vitórias, aí quase me dei por derrotado.
Faltavam só 6 páreos a serem disputados, e eu 3 vitórias atrás dele, mas aí ganhei um páreo com uma égua do Haras Jaberave, chamada Gringa. Ganhei o 5º páreo com o cavalo Pimpolho, de propriedade do falecido Dr. Ulisses Paes de Barros e ganhei o 7º páreo com uma égua chamada Tupiata.
Empatamos a estatística. Foi uma festa, 74 vitórias para cada um. É, essa foi a parte mais emocionante da minha carreira de jóquei.
Eu preferia o freio e não bridão, porque aprendi com freio, o freio é sul americano. Na Argentina, que eu saiba, só tem 2 jóqueis de bridão atualmente lá: um chileno e um venezuelano.
O resto é tudo freio, inclusive aquela joqueta famosa, Marina Lezcano, montava no regime de freio.
No Rio Grande do Sul é o freio que impera. No Paraná também é o freio. Aqui em São Paulo formaram a escola de jóqueis no regime de bridão porque o professor era o Luiz Gonzalez, jóquei de bridão.
No Rio de Janeiro tem 2 professores. Um de bridão e um de freio.
Aqui, me desculpe, deveria ser igual: freio e bridão.
O bridão fica segurando com as duas rédeas em posição diferente do freio. Tanto eu acho freio melhor, que dou um exemplo: já ganharam o Grande Prêmio São Paulo duas éguas dirigidas por um jóquei de freio. O único que atuou no páreo de freio, o resto era tudo bridão.
O freio dá mais liberdade para o animal correr e ele na faz tanta pressão na boca; o animal fica nervoso, não se embravece. O bridão faz mais pressão, é melhor para distancias curtas.
A não ser um jóquei excepcional que saiba dosar bem o cavalo como o Gonzalez, o Irigoyen, o Molina, esses jóqueis que tinham muita cabeça, muita técnica, eles poupavam, não embraveciam o cavalo.
Mas atualmente os jóqueis aqui, com as distancias relativamente curtas, o bridão e o freio se igualam. Mas em distâncias longas, o freio dá mais vantagem para o cavalo.
O bridão é estilo inglês. Tem no Chile, na Inglaterra, na França .... lá é só bridão.
Um fato importante na minha vida foi o convite que recebi do Príncipe Ali Khan para montar um cavalo seu na França, me apresentou como o jóquei mais importante do turfe de São Paulo em freio, para mostrar como era que se dirigia um cavalo nesse sistema. O Olavo Rosa foi convidado também para montar um cavalo dele lá, no regime de bridão.
Nós éramos os jóqueis brasileiros, naquela época, de mais destaque em São Paulo: eu como freio, Olavo Rosa como bridão. Tenho uma foto com o Príncipe Ali Khan nos abraçando no paddock do Jockey Club. Nós já fardados para montar o Grande Prêmio São Paulo.
Na escola de jóqueis é o bridão mais usado. O professor é o Massoli, que foi jóquei de bridão.
A escola não tem professor de freio.
Eles vão acabar com o regime de freio aqui. Já está resolvido.
Só tem 4 jóqueis de freio montando em São Paulo atualmente.
A hora que eles deixarem a profissão, se bem que eu acho que dois já estão próximos a deixar; o Bolino e o Amorim. Tem também o Jorge Garcia e o José Fagundes.
Ah! Me interessava por todo cavalo que via. Toda vida me interessei. E comecei a criar ainda quando jóquei.
Tem uma outra coisa importante na minha vida: fui o único jóquei que como tal ganhei uma corrida com cavalo criado por mim. Foi o Iraquê, em 1962.
Seguia o treino, ia para as cocheiras depois do trabalho, medicava, ajudava o treinador a fazer vitamina, injeções no cavalo, massagem, ligava ......
Aí sempre estive em contato com o cavalo. Até hoje.
É a minha vida. Ah! Olha, graças a Deus tive sempre bons amigos em São Paulo, inimigos, são alguns..... talvez um colega meio invejoso por meu sucesso, mais inimigo mesmo eu não tive. Tanto que eu sempre fui escolhido como líder de classe.
Fui Presidente do Sindicato dos Jóqueis durante 6 anos, de 63 até 69. Depois de ter deixado de montar, a diretoria fazia questão que fosse eu o representante da classe para qualquer reivindicação . Consegui melhorar alguma coisa, inclusive arrumar esse auxilio que o Jockey Club dá de um salário e meio. Hoje está aumentado até um pouco.
Ultimamente reajustamos todos os jóqueis que tinha matricula há 25 anos em São Paulo, e isso até o hoje o Jockey Club dá.
Consegui também comprar uma casa para o Florisvaldo Costa, quando ele ficou paraplégico numa queda, no dia em que morreu o Pinheiro Filho. Eu angariei fundos e... ganhei 3 cavalos de presente para pôr na rifa. Um foi do Dr. Roberto Alves de Almeida, outro foi do Silvio Montanarini e outro, não me lembro de quem foi.
Eu rifei os cavalos e guardei o dinheiro nos cofres do Jockey Club. Fiz também um movimento durante 3 reuniões, porque naquele tempo já tinha noturna, sábado, domingo e segundo, com 50% cedido do que os jóqueis e treinadores ganhassem. Com esse dinheiro ele comprou uma casa onde mora com a família. O Jockey Club reformou duas vezes a casa dele e o atende até hoje.
Ah! Lembro também do “seu” Chiquinho. Eu o conheci no Rio de Janeiro desde que nasci, porque ele foi amigo do meu falecido pai, que montava com o nome de Dinarte Vaz. Freqüentei a escola com os filhos dele. Era uma bela pessoa. Era excepcional. Um coração de ouro.
Nossa família é toda originária do Rio Grande do Sul. Nasci no Rio de Janeiro, mas meu pai era gaúcho, e meu avô uruguaio, descendente de espanhol.
Eu imitei a profissão de meu pai que é raro, porque são poucos os jóqueis que tiveram filhos que seguiram, que deram certo. Poucos. É, a maioria desistiu. Um que deu certo também e que foi ótimo jóquei foi o Greme Jr., mas ele deu no vício da bebida, morreu com 30 anos. O pai dele, Guilherme Greme foi um grande jóquei do passado. Eu não me lembro de outros, a não ser, atualmente, o Jorge Garcia, filho do Dendico. Isso é bem lembrado porque o Jorge Garcia é um ótimo jóquei como foi o pai.
Sobre a diferença do cavalo que corre ferrado com alumínio ou com ferro, é que o alumínio é bem mais leve, e é melhor porque sempre é um peso a menos nos cascos. O animal quanto menos sentir coisa nos cascos, melhor. Só não pode correr desferrado, porque quebra o casco, ainda mais aqui com este chão arenoso e asfalto, mas no sul, se usou muito tempo correr cavalo desferrado.
E por que? Eu vou fazer um comparação: um corredor, um atleta que corre até de sapato e o que corre de tênis. É a diferença da ferradura de ferro e a de alumínio.
Falando aqui das filiações, o meu filho não foi para o turfe porque desde pequeno era muito desenvolvido. Não tinha altura, tamanho. Ele pesa 74 quilos. De que jeito ele podia ser jóquei? Ele é alto. Então estudou e é advogado. Na minha vida deu para educar o filho, deu para fazer tudo direito.
Agora falando de tamanho e de peso eu não tinha problema porque sempre pesei 53 quilos. Então era um peso ótimo. E tenho 1m61 de altura. Sou maior do que é habitual para um jóquei que normalmente mede 1m55.
Mas eu sempre tive peso bom, numa tive problema. Tirava peso quando eu era novo, aprendiz, porque os pesos eram muito leves naquele tempo. Perdi muitos colegas, doentes, de tanto tirar peso. Depois de 1941, quando inaugurou Cidade Jardim, os pesos foram atualizados, isso devido ao esclarecimento que tinha Thomazinho Assumpção. Ele era handicapeur, e aumentou os pesos na tabela nova. Como é que o Gonzalez, por exemplo, poderia montar ou um Molina com 50 quilos ou com 49 quilos se eles pesavam 57, 58.......
Tiravam peso a semana toda. Eu tive colegas, inclusive o Molina, que só se alimentava, 3ª e 4ª feira. De 5ª feira em diante não comia, passava a chá e torradas, tomando suador.
E foi por isso que muitos jóqueis naquele tempo morreram tuberculosos. Eu fazia um pequeno regime. Eu nunca fui de comer comida pesada, nem frituras, nem beber cerveja. Tomava uma dose de uísque antes da refeição em casa, mas numa mais, sempre deitei cedo e levantei cedo. Fumava muito pouco.
Quando eu me aposentei, não engordei, conservei o mesmo peso. Outros colegas engordaram: o Molina e o Dendico Garcia, por exemplo, engordaram. Lodegar Bueno Gonçalves pesa 80 quilos, montava com 55, veja o sacrifício que um homem faz.... Tinha que levar uma vida regrada: alimentação em hora certa, duas vezes por dia só.
Tem gente que as vezes passa a vida inteira fazendo uma carreira, mas preferia ter outra. Eu tive muitos colegas que deixaram e pegaram outro ramo, foram trabalhar com imóveis. Um amputou um pé, ficou inutilizado para a profissão, colocou aparelho e é chofer de praça. Outro deixou para ser fiscal de renda. Mas esses não venceram na profissão. Eles contaram tempo, ficaram ali, montavam pouco e ganhavam pouco. Foram perdendo o incentivo.
E a profissão de jóquei é como – vou fazer uma comparação – jogador de futebol famoso. Tem uns que não vão para diante. Treinam todo dia, jogam de vez em quando e ninguém conhece o nome deles. Se sair no jornal, ninguém sabe quem é. E tem os que se destacam como Pelé, Rivelino, Zico e outros. Assim são os jóqueis famosos.
Agora precisa que o jóquei tenha juízo e guarde um pouco do que ganha, porque é uma profissão relativamente curta e muito traiçoeira.
Uma queda pode deixar como deixou inutilizado o Florisvaldo Costa. Ou então o Oli Nobre. São Paraplégicos.
Aliás, todo mundo diz que dos jóqueis, o que melhor soube se estabelecer fui eu.
Graças a Deus, desde que comecei a montar, tive essa lucidez, porque meu pai morreu muito pobre. Ele era uma pessoa muito generosa, ajudava todo mundo, pensando que a carreira não ia acabar nunca.
Mas meu pai morreu com 38 anos como jóquei e pobre. Eu tinha medo de sobre um acidente grave, ficar inutilizado para a profissão. Como é que eu ia sustentar a família? De que maneira, seu eu ficasse inválido, como muitos?
Eu tive colegas que se suicidaram. Daniel Lopes, com um tiro na cabeça. E Cássio Gonzalez, um argentino, derramou-se um litro de álcool e acendeu um fósforo. Porque ficavam turbeculosos. Daniel Lopes por causa de um caso amoroso. Mas todos pobres. Porque gastavam o que ganhavam.
Francisco Irigoyen foi um jóquei famoso, que ganhou muita corrida, muito grande prêmio. Deixou a profissão relativamente pobre.
Então eu tinha mede de ter um futuro ruim, ainda mais depois que casei. Nasceu meu filho, eu pensava em encaminhá-lo e educá-lo. E como é que eu ai fazer se sofresse um acidente, se ficasse inutilizado?
Então eu procurei guardar. Não com avareza, mas comprava terreno, vendia; comprava uma casa, vendia; construída uma casa, vendia. Comprei a propriedade no Paraná, fui construindo o haras e aquilo foi valorizando, então eu posso dizer que, graças a Deus, hoje vivo sossegado, com o que ganhei no turfe.
Afinal ganhando mais de 2.000 corridas como eu ganhei e ganhando 70% dos grandes prêmios do calendário turfista, tinha de poupar. Se não tivesse guardado eu seria o culpado, unicamente o culpado se pusesse fora o que eu ganhei.
Por isso não tenho amarguras; eu já falei de alguns profissionais que têm muita amargura, mas eu não tenho, felizmente. Justamente por que eles não juntaram nada.
Nunca sofri uma punição por dolo, por maldade; sempre fui conceituado diante da Comissão do Jockey Club.
Lembro de quais foram os primeiros cavalinhos que eu comecei a criar.
O primeiro batizei com a letra “A”. Se chamava Anambé. Eu tinha só duas éguas quando comecei.
E o segundo chamava-se Big Lover; esses foram os dois primeiros potros do Haras.
Depois criei muito cavalo ganhador de muitas corridas.
Eu não tive a infelicidade de ver cria que não ganhasse prêmio importante, mas eu tive um “crioulo” chamado Eterno que ganhou do Vândalo um clássico. E o Vândalo foi um craque.
Big Lover morreu dentro da cocheira. Ele empinou, caiu e deu com a cabeça na parede.
Hoje eu tenho poucos cavalos. Atualmente estou com 3 éguas de cria e o meu lugar é pequeno. Já não estou querendo ser um criador nem médio, sou mini criador, é só para manter o haras e o amor à arte.
Nos anos todos montei bastante para o Sr. José Paulino e Dr. José Bonifácio. Fiquei 16 anos com o Dr. José Bonifácio. Ele me dava sempre a preferência de montar seus animais. Nenhum outro jóquei montava, a não ser quando eu tinha que viajar ou estava suspenso, senão, era só eu que montava os cavalos dele. Dezesseis anos é muito tempo e quando eu me aposentei, estava montando para ele ainda, que fez de tudo para eu não deixar. De fato, eu deixei de montar com 49 anos.
Eu poderia montar ainda bem mais tempo, porque não sentia nada; tinha saúde, me alimentava bem, sempre levei uma vida regrada, nunca fiz extravagâncias. Foi decisão porque meu filho impôs.
“Olha, eu me formo esse ano, já estou noivo, não vou mais morar em São Paulo e o senhor resolve: ou vai morar perto de mim no Paraná, ou então, fica aqui e eu fico lá”
E como é que a gente vai ficar longe de um filho?
Eu poderia ter montando bem mais 3 ou 4 anos.
E depois, porque eu acho assim, que o jóquei estando com saúde, ganhando corrida, o importante é ganhar.
13 dezembro 2011
Socorro!
Comecei a estudar o resultado das corridas do sábado passado em Cidade Jardim e me espantei ao ver tempos completamente incongruentes entre si. Vogante, no Clássico, marcou 65.8 para 1100 metros. Antes, no segundo páreo Vyborné, em um claiming fraco, colocou para os mesmos 1100, o tempo de 65.4. Também me chamou a atenção o bom tempo das potrancas de dois anos, com Quimaquina fazendo 52.8 para os novecentos. Isso proporcionalmente é bem melhor que o tempo de Vogante. Desconfiado, fui tirar a prova dos nove e encontrei vários tempos errados. Se alguém tiver cronômetro em casa, e quiser comprovar, seria bom. Lembrando que o tempo manual deve girar em 1,7 pior do que o tempo eletrônico. Vejam as diferenças que achei:
Por favor, tenho medo que meu relógio tenha enlouquecido. Mandem suas aferições. Não esqueçam de subtrair por volta de 1.7 do tempo encontrado.
Páreo |
Vencedor |
Tempo afixado |
Tempo que eu encontrei |
4 |
Quimaquina |
52.8 |
53.5 |
5 |
Jet Black |
66.3 |
64.3 |
6 |
Vogante |
65.8 |
63.8 |
7 |
Paiolo |
70.6 |
71.6 |
Por favor, tenho medo que meu relógio tenha enlouquecido. Mandem suas aferições. Não esqueçam de subtrair por volta de 1.7 do tempo encontrado.
Pierre Vaz
Achei
interessante este texto, contando um pouco da história do Pierre Vaz, um dos fabulosos jóqueis do passado,
pela visão do mesmo. Interessante porque a linguagem é a típica do
turfista, então a leitura corre fácil e agradável. Fora isso, é uma
aula de história turfística. Agradeço ao Marcelo Augusto que me enviou
esta raridade. Uma dica para os que gostam de livros antigos: o
"Memórias" - Jockey Club de São Paulo é facilmente encontrado em sebos
paulistas. A entrevista completa saem em três postagens, já que é bem
grandinha para uma postagem só.
Texto extraído do
livro : “MEMÓRIAS” - JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO
Autoria: Caetano B.
Liberatore
Lançamento : 1994
PIERRE
VAZ fala de
sua vida no
turfe
Comecei
a montar oficialmente em
Curitiba, Paraná em 1932,
no Velho Hipódromo do
Guabirotuba, hoje prado do
Tarumã. Mas antes eu
já montava em raia
reta. Eu tinha então
13 anos de idade.
Em 1933
eu fui levado para
o Rio de Janeiro
pelo Fernando Schneider, em
treinador famoso naquela
época, já falecido há
muitos anos. Fiquei até
38. Apesar de começar
no Paraná, meu pai
era carioca e eu
também.
Mas
quando meu pai ficou
doente, acho que percebeu
que não teria muito
tempo de vida, me
mandou para o Paraná,
para a casa de
uma família amiga que
tinha cavalos de corrida,
para seguir a carreira
de jóquei que ele
queria que eu fosse.
Eu tinha
desde garoto aquela loucura
para ser jóquei como
meu pai era. É,
ele queria, queria, queria
e minha falecida mãe
não queria de jeito
nenhum. Tinha mede.
Então ele
me mandou para ficar
uns 5, 6 meses
à vontade no campo,
montando, e quando eu
sentisse saudade de voltar
para casa, eu escreveria
e ele me mandaria
me buscar. Viajei para
o Paraná sozinho,
acompanhado de um amigo
dele que ia para
Curitiba.
Depois de
6 meses, meu pai
faleceu no Rio e
eu não voltei mais.
Fiquei no
Paraná levando a vida
de jóquei, montando em
raia reta, correndo
desafios, e aí tirei
minha matrícula de
aprendiz, em 1932.
Ainda como
aprendiz, em 1936, ganhei
o páreo mais importante
da época, o Grande
Prêmio Cruzeiro do Sul.
Ganhei novamente esse mesmo
páreo outras vezes.
Depois do
Grande Prêmio Brasil é
o prêmio mais importante.
É o Derby carioca.
Três anos
lá no Rio é
muito, dá muita
experiência.
Em 38
vim para São Paulo,
a convite do falecido
treinador Waldemar de Paula
Mendes, aquele treinador
gordo que cuidava dos
cavalos do Dr. Roberto
Alves de Almeida, como
seu jóquei.
Eu montei
em São Paulo até
1964. Aí eu só
ia para o Rio
periodicamente, todo ano
para monta os grandes
prêmios. Ganhei os maiores
prêmios do calendário
turfista de lá, inclusive
por duas vezes o
Grande Prêmio Brasil, em
1946 e 1949.
Foram 31
anos. E nesse tempo
a vitória que mais
gostei, na qual mais
me emocionei, foi a
do primeiro Grande Prêmio
Brasil, com MIRON,
porque foi uma corrida
impressionante. Faltavam 50
metros para o disco
e eu ainda vinha
atrás do outro cavalo,
mais de um corpo.
Foi a
vitória em cima do
disco. O outro era
o Zorro, dos Seabra,
montando pelo Domingos
Ferreira. O Miron era
do Sr. José Paulino
Nogueira. Tanto eu gostei
disso que o nome
do meu haras é
Haras Miron, que existe
até hoje.
Eu ganhei
o Grande Prêmio São
Paulo no mesmo ano
com o Miron e
aí fui para o
Rio e ganhei o
Brasil. Quer dizer, com
esse cavalo eu ganhei
os dois grandes prêmios
no mesmo ano.
Foi o
meu primeiro Grande Prêmio
Brasil. Já tinha tirado
em 2º lugar, depois
um 3º lugar. Tirei
sempre colocação, mais
consegui ganhar em 1946.
Com o
Miron eu vinha atrás
um corpo. Eu corria
contra 18 animais e
estava em 10º lugar.
Sempre atrás, que o
meu cavalo era demorado.
Era “carroção” como
nós chamávamos. Era um
cavalo demorado para
atropelar e o cavalo
Zorro corria na frente,
longe, já com a
corrida praticamente ganha.
Quando
faltavam uns 100 metros
para o disco, o
povo já estava ovacionando
o Zorro com o
vencedor e o meu
cavalo veio, veio, veio.
Deu para perceber que
ganharia. Eu só pedia
que o disco fosse
um pouquinho mais adiante
porque eu sentia que
o meu cavalo vinha
alcançando o outro que
estava cansando, cansando,
e o meu vinha,
vinha devagar, mais chegou
o disco, ganhando por
meio corpo.
Foi
emocionante e eu tenho
uma fotográfica do meu
filho me beijando. Ele
tinha só 5 anos.
O Grande
Prêmio São Paulo, em
1946, eu lembro bem.
Esse ganhei fácil. Essa
foi fácil. Chovia muito
e a raia estava
impraticável. O cavalo
favorito do páreo era
Secreto, do Stud Seabra.
Quiseram retirar o cavalo
porque corria mal naquela
pista e o Jockey
Club não deixou. O
Seabra brigou com o
Jockey e retirou todos
os seus cavalos e
os levou para o
Rio. Por causa disso,
passou uma porção de
anos sem trazer cavalo
para correr aqui.
Depois é
que o Sr. Thomazinho
conseguiu trazer o Dr.
Seabra para São Paulo.
Naquele dia
foi uma vitória fácil,
o Miron se adaptou
bem à pista molhada
e ganhou bonito. O
Miron só montei eu...
ganhei também o Grande
Prêmio 29 de Outubro
com ele.
Foi
walkover até, desistirem
de correr, correu sozinho.
Ganhei
outro Grande Prêmio, eu
não me lembro o
nome.
O melhor
cavalo que montei
chamava-se CARRASCO. Esse
foi o mais corredor.
Era do Dr. Oswaldo
Aranha, Ministro Oswaldo
Aranha. Montei também
outros craques. Montei
Lunar, montei Mirones; eu
nem me lembro o
nome de todos.
Mas esse
foi o cavalo mais
corredor que eu montei.
Ganhei o Grande Prêmio
Brasil com ele, em
tempo recorde. Foi em
1949. 15 dias depois
ganhei o Grande Prêmio
Jockey Club, em 3.200
metros, também em tempo
recorde.
Depois de
um mês, ganhei o
Grande Prêmio América do
Sul, em 4.000 metros,
ainda com o mesmo
cavalo.
As 3
provas da temporada
internacional daquele ano
no Rio, ganhei com
o mesmo cavalo. Era
sempre para o Ministro
Oswaldo Aranha. Era cavalo
importado da Argentina,
melhor do que o
uruguaio. O Carrasco foi
importado pelo Sr. Atílio
Irrulegui, o maior
importador de São Paulo.
Esse Carrasco deixou pouca
descendência, pois morreu
cedo.
Eu também
cheguei a conhecer a
Garbosa Bruleur. Eu corri
junto com ela. Quem
montava a Garbosa era
o Rigoni.
O Emílio
Castillo montava o Nizan,
mais veio montar a
Garbosa Bruleur quando ela
fracassou no Grande Prêmio
São Paulo, que eles
achavam que ela iria
ganhar.
Mandaram
buscar o Castillo no
Rio porque o Rigoni
estava meio brigado com
o proprietário da égua.
Ela estava
no final de campanha.
Fracassou, e aí foi
a ultima vez que
correu.
Eu nunca
montei a Garbosa, mas
ganhei com Garboleto, que
era filho dela. Foi
no Grande Prêmio Derby
Paulista. Era do Sr.
José Bonifácio Coutinho
Nogueira, em 60 ou
61, não me lembro
agora não. Com esse
cavalo também ganhei o
Grande Prêmio Consagração.
A Garbosa
Bruleur foi uma égua
muito boa. Corredora mesmo,
muito corredora. E todos
os filhos dela foram
corredores. Saíram todos
bons.
Nesses 31
anos de turfe houve
uma corrida que perdi
e que mais me
deixou com raiva porque
era para não ter
perdido. Foi com o
cavalo CLARETE, Grande
Prêmio São Paulo, na
inauguração de Cidade
Jardim, em 1941, muita
gente diz que eu
facilitei, que eu joguei
o boné antes do
disco. Não, o boné
caiu. Chovia muito.
A raia
estava ruim e o
boné muito molhado, caiu.
Não havia capacete naquele
tempo.
Agora eu
perdi porque o meu
cavalo sentiu, doeu. Ele
tinha um problema na
mão direta e sentia.
Daí a derrota para
o Teruel com o
Armando Rosa. Clarete vinha
encostando na cerca, na
frente. Teruel era um
cavalo muito bom, que
atropelava duro.
Um ano
antes o Teruel ganhou
o Grande Prêmio Brasil;
eu também tirei o
2º lugar para ele
com Caramelo.
E aqui
ele ganhou o São
Paulo. Era um cavalo
que atropelava muito no
final. E ele me
ganhou nos últimos 100
metros assim.
Meu cavalo
até essa altura vinha
na frente. Não tinha
corrido na frente, corria
3º, 4º, mas tomei
a ponta faltando uns
400 metros. E nos
últimos 100 metros quando
parecia que eu ai
ganhar o Grande Prêmio,
apareceu o Teruel e
me ganhou, mas o
meu cavalo ficou doído,
foi uma manqueira tão
doida que ele nunca
mais correu. Foi para
reprodução. Era propriedade
do Dr. Roberto Alves
de Almeida. Sobre o
Clarete, devo dizer que
numa hora dessas não
dá para forçar o
animal.
A crônica
naquele ano não sabia
que o cavalo estava
doído na mão, na
hora da corrida. Não
viram e acharam que
eu facilitei um pouco,
mais não foi nada
disso.
Durante
minha profissão toda eu
ganhei 2.104 corridas. Em
Cidade Jardim, 1983 delas.
E depois
outras no Rio de
Janeiro, no Paraná, em
Campinas. Ganhei o Grande
Prêmio Campinas 2 ou
3 vezes. E montei
também na Moóca. Ganhei
alguns grandes prêmios lá,
com o cavalo Caaimbé.
Fui
vencedor das estatísticas
em São Paulo por
6 vezes. E se
não me engano, 5
ou 6 vezes 2º
colocado. E um ano
empatei com o Gonzalez.
É, foi em 1954.
Pois essa
história do empate foi
muito bonita, porque nós
disputávamos desde o mês
de agosto. Em setembro,
nós ainda disputávamos:
eu ganhava, ele ganhava,
sempre juntos, diferença
de apenas uma vitória,
quando chegou no último
mês, pegou fogo. Aí
o povo ai ao
prado e só jogava
nas montarias do Pierre
e do Gonzalez, porque
estavam disputando a
estatística há meses,
juntos na frente, sempre
destacados dos outros.
Era o
ano do Quarto Centenário
de São Paulo.
Então a
maioria torcia para mim,
que eu sou brasileiro.
Eu tinha
a torcida da maior
parte dos turfistas
brasileiros. Os adeptos do
Gonzalez, brasileiros também,
torciam o mesmo para
o Gonzalez.
Na minha
opinião, ele foi o
maior jóquei de bridão
que o Brasil conheceu.
Essa é que é
a realidade, tanto que
o apelido dele era
“professor”. No tempo
em que montava, chamavam
a ele de professor.
O meu
regime de montar era
o de freio. Eu
era na época considerado
o maior jóquei de
freio em São Paulo.
Era eu em São Paulo e o Rigoni
no Rio. Éramos os
campeões de vitórias todo
ano.
12 dezembro 2011
11 dezembro 2011
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