De que é feito um campeão

 Não sou conhecedora de cavalos, muito menos de turfe, o esporte que transforma esses animais em verdadeiros herois. Mas como fiz e publiquei uma reportagem no GLOBO-Zona Sul (de 16 de julho) sobre os 83 anos do Hipódromo da Gávea e o 77o Grande Prêmio Brasil de turfe, que aconteceu ontem à tarde, no Jockey Club Brasileiro, resolvi comparecer ao evento, para matar minha curiosidade de leiga.
O mínimo que posso dizer é que tive a felicidade de assistir à vitória da persistência e do talento; vi a ascensão de um grande campeão. Natural de Dourados (MS), Marcos Mazini, de 24 anos, brilhou no domingo - que teve, ao todo, doze páreos -, vencendo seu primeiro GP Brasil (o 7o páreo). Ele simplesmente cruzou a linha de chegada com uma folga incrível. Nos últimos metros (eram 2.400 ao todo), disparou na frente, voando sem sair do chão. Montado no Jeune Turc ("jovem turco", em português), Mazini deixou todos para trás. Homem e cavalo eram um só.
Confesso que fiquei muito emocionada, a ponto de chorar. Especialmente quando o vi no pódio, com a família, diante dos olhos incrédulos de tantos adeptos do turfe da alta sociedade carioca, que costumam apostar no cavalo, não no jóquei. O Jeune Turc não era dos mais cotados para levar o trofeu. Nem Mazini, embora tenha sido o campeão das duas últimas temporadas. O que realmente pesou foi a vontade de vencer desse jovem de família humilde que, desde os 8 anos, fugia de casa e da escola para ir à hípica, porque queria aprender a montar. Sim, o talento já estava no sangue. Mas ele teve de passar por muitas provações para chegar à glória de ontem - entre elas, levantar todos os dias às 4h para treinar. Foi lindo ver Mazini erguendo sua filha, Maria Vitória, de 2 anos, ainda montado no cavalo, na pista: ele chorando de emoção; ela, de medo da altura ou do cavalo. O fato é que, pela primeira vez na vida, vi de perto de que é feito um grande campeão. Parabéns, Mazini!!! 

Isabel Kopschitz, O Globo 3.8.2009