Fonte: Tocchi in penna al galoppo, Federico Tesio, 1946.
Agradecimento: Sérgio Melgaço, pela colaboração.
Não se desesperem, porque um mais um ainda é dois, mas em se tratando de Turfe, as verdades absolutas tendem a ficar defasadas quanto mais o tempo passa. No que se refere a handicaps, o absoluto some com uma impressionante rapidez. Vejamos algumas tabelas na curta história do Esporte dos Reis.
Em 1760 apareceu a primeira tabela oficial. Observem que nem contemplava cavalos de três anos, que dirá os de dois:
4 anos - 57 quilos
5 anos - 63 1/2 quilos
6 anos - 70 1/2 quilos
7 ou + - 76 quilos
Sempre olhando pelo prisma atual, seria risível este handicap. Imaginem hoje, cavalo de sete anos dando 19 quilos para os de quatro.
Em 1775 aparece uma outra tabela, incluindo animais de 3 anos. E esta já é um avanço notável com relação a primeira, em que a diferença de peso para cada faixa de idade era brutal.
3 anos - 43 quilos
4 anos - 50 1/2 quilos
5 anos - 55 quilos
6 mais - 57 e 58 quilos
Finalmente, em 1800, aparecem os dois anos nas tabelas:
2 anos - 40 quilos
3 anos - 51 1/2 quilos
4 anos - 58 quilos
5 anos - 61 quilos
6 anos - 63 quilos
7 ou + - 64 quilos
Temos que nos reportar à época e pensar que os dois anos deles não se pareciam nada com os "amadurecidos potrinhos" atuais. A precocidade tem sido estimulada ao extremo.
Federico Tésio, que é uma unanimidade entre criadores do PSI de todos os tempos, também tinha uma tabela, feita por ele mesmo, mas com muito maior requinte. Vejam a imagem abaixo:
Reparem que, a medida que o ano hípico transcorria, as diferenças de pesos iam baixando, no que se refere a relação dos dois e três anos, com os de mais idade. Mesmo esta tabela, que já se assemelha bem mais com as nossas tabelas atuais, possui vários "furos", que, eliminado-se o contexto "data em que foi escrita" (1946), seriam facilmente detectados pelos handicapeurs de hoje.
Como curiosidade, apresentamos alguns axiomas do criador de Ribot e Nearco.
- Aumentando o peso sobre o dorso de um cavalo, se diminui a velocidade.
Isto é matemático. - Quanto mais o cavalo se aproxima da maturidade, torna-se cada vez mais capaz de suportar o peso.
- A maturidade chega ao auge c/6 anos.
- Quanto mais se alonga a distância da corrida, a probabilidade fica maior para o cavalo maduro em confronto com o adolescente.
- As fêmeas e os castrados com pesos iguais, são considerados inferiores aos machos e esta inferioridade vem calculada em aproximadamente 2 quilos.
- Se calcula que 1 quilo a mais sobre o dorso, faz com que o cavalo perca 3 metros para um percurso de 2.000m a plena velocidade.
- Permanecendo constante o peso imposto ao cavalo mais velho, isto é, completamente desenvolvido, o peso imposto ao cavalo jovem aumenta cerca de 1 quilo a cada mês, até alcançar a igualdade, quando chegar também a maturidade.
Fiquem tranquilos leitores, não será na nossa encarnação que um mais um será diferente de dois, em contrapartida, e na evolução rápida das técnicas de performance, não me surpreenderia se algum infante que lê estas mal traçadas linhas, não consiga presenciar em vida, animais de três anos, dando peso para os de quatro. Quanto tempo vai demorar para que esta distância que separa as duas faixas de idade chegue ao nivelamento perfeito. Quando penderá para o lado do que hoje chamamos de "potro"? Década após década, o handicap que separa estas faixas vai diminuindo. Sem base científica alguma, arrisco o vaticínio: o século XXI ainda será testemunho deste acontecimento. Pena que eu não estarei aqui para provar que é fácil ser Nostradamus.