22 setembro 2011

No reino dos desferrados

Era uma vez um reino cavalar que vivia em harmonia desde quando o Rei Casco Perfeito e a Rainha Socorro Desferrada pararam de correr. A vida da tropa era apenas correr e competir e após a aposentadoria dos monarcas das pistas, as corridas, razão única da raça dos Purinus Sangus Englandius, estavam cada vez mais disputadas. Os regulamentos buscavam atingir o perfeito equilíbrio. Foi assim que se fizeram as chamadas. Ganhadores com ganhadores, perdedores com perdedores, fêmeas contra fêmeas, os mais novos disputando com os mais novos, os craques "versus" os craques, e os menos aquinhoados no poderio locomotor, tentando a vitória com animais de igual nível técnico. Aos que tinham algum problema, eu disse problema, era permitido que se usasse algum artifício que o corrigisse. Assim, para os que gostavam de abrir na curva, ou não conseguissem correr em linha reta, fez-se a roseta. Para os que se afogavam , uma simples imobilização da língua e o animal podia respirar plenamente como os outros, quando em ação. Antolhos, arminhos, algodão nos ouvidos, enfim acessórios que não melhoravam performance, mas que podiam ajudar aos cavalos a encontrar seu potencial. Todos eles eram permitidos.

Tudo ia bem, mas eis que o filho de Casco Perfeito e Socorro Desferrada, o Príncipe Desferrado É Assalto, completa dois anos e começa sua jornada nas pistas. Pelas leis da monarquia, os herdeiros do sangue real eram os únicos que podiam correr sem ferraduras, se assim o quisessem.

De fato, Desferrado É Assalto honrou o nome e depois de três vitórias seguidas,  transformou-se em líder de geração.

Houve  revolta naquele mundo equino, tanto que uma comissão  de três cavalos pensadores, responsáveis pela elaboração dos páreos,  pediu audiência ao rei. O mais destacado dentre eles, o cavalo Handicapeur, se encheu de coragem e falou de forma direta ao rei:
- Majestade, seu filho por correr sem ferraduras, vem levando vantagem sobre os adversários.
-  Você tem razão, Handicapeur. Mas que culpa temos nós se somos sangue azul e nossa conformação física nos fez com cascos perfeitos que permitem ao nosso filho atuar desferrado em todas as provas. Concordo que é uma vantagem, mas é uma vantagem que a própria natureza nos deu. Se proíbo os outros de correrem desferrados é para o próprio bem deles, pois em assim o fazendo, deteriorariam seus cascos  não tão nobres quanto os nossos, a ponto de causar lesões irreversíveis.
- Tudo bem, Majestade. Concordo com sua assertiva, mas  se os cascos do Príncipe Desferradinho são naturalmente tão superiores, gostaria que ele atuasse assim, no próximo Clássico do nosso calendário, programado para uma milha na areia.
- Não me faças rir, caro Handicapeur. Todo mundo sabe que o Desferradinho e todos os outros de nossa estirpe, gostam de atuar descalços apenas quando a grama está propícia. A grama leve é nossa predileção, mas uma grama um pouco macia também nos dá prazer. Não gostamos de grama pesada, por isso ferramos quando necessário. Quanto a areia, nem sei como mantemos corridas nesta pista, decididamente falta pompa e circunstância. Onde está o glamour? Se permito provas em tal pista é porque sou um rei justo, mas é preciso que se diga que neste Clássico, o único que irá com agarradeiras será meu filho.
- Queria que Vossa Alteza entendesse, que desse jeito quem se ferra somos nós. Se corrida de cavalos fosse um prova de armas diria que seu filho Agarradinho É Barbada.. perdão excelência, que seu filho Desferradinho É Assalto está com a metralhadora na mão, ou melhor nos pés, enquanto seu súditos competem com tacape e machadinha.
- São coisas da monarquia, Handicapeur, coisas da monarquia...

Quis o destino que neste clássico na milha estreasse Pegasus, filho de Avião na Voa Condor. Foi o primeiro revés de Desferrado É Assalto, mesmo de agarradeiras chegou a vários corpos de seu oponente. O Rei incontinenti, obrigou a Pegasus a participar de um desafio na pista de grama leve, contra seu estimado filho. Aí sim veremos quem é o melhor, dizia ele.

O duelo não aconteceu, ou melhor aconteceu mas na partida já estava decidido. Enquanto um pegava muito bem a grama leve, o outro pegou muito melhor, na verdade nem tocava os pés na mesma, pois tinha raiva do chão, parecia flutuar, de tanto que corria.

Depois deste duelo, a população equina, desconfiada, se rebelou e depôs rei, rainha e príncipe. Um dos revoltosos e encarregado de levar a Família Real para interrogatório, o cavalo Domingus Fratius, gritava:
- Eles nunca foram sangue azul, o que eles são é gasolina azul.
Mas chamando o príncipe ao pé do ouvido, disse:
- Não liga, não. Existe uma Cidade em que na grama do seu Jardim não pode competir cavalo com asa, e onde você voltará a ser o que sempre foi, o líder. Se tudo der certo, eu também farei a minha fama neste local e serei conhecido como o Rei dos Desferrados, quem sabe até Papa do Turfe.

24 comentários:

  1. Aron adorei esse conto. O assunto é delicado, por isso causa tanta polemica. Meu sonho é que um dia tenhamos novamente um craque brasileiro alinhando no Arco do Triunfo, mas tem que ser um do tipo do PEGASUS, que tenha raiva do chão, como foi o FARWELL, o QUARI BRAVO, o ADIL, o ITAJARA, o MUCH BETTER, a IMMENSITY, a EMERALD HILL, a DULCE, a DONÉTICA etc......

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  2. marcelo augusto o melhor cavalo brasileiro foi gloria de campeão.
    quando nascer um cavalo que tenha os premios que o gloria de campeão ai sim nasceu um craque.

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  3. Para falar uma bobagem dessas era melhor ficar quieto, caro Bruno.

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  4. Falam que Itajara foi um cavalaço, craque. Ganhou de quem? Analisem o restrospecto da época e vejam seus adversarios. Ninguem. E ainda esquecem cavalos como Grão de Bico, Manacor, Satanás, Boticão de Ouro.

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  5. Sobre o Itajara, há dois lados. Também concordo com o anônimo sobre os adversários, que eram fracos.

    O mais credenciado talvez fosse o Derby Winner paulista Jabble que o Mário Campos não sei nem se colocaria entre os melhores cavalos que treinou. Pelo menos já o perguntei mais de uma vez e ele cita Ever Love, Lazurita, Hail Glory, Durban Thunder, Gregoriano, New Famous e não cita a ele.

    Mesmo assim, tenho um amigo fã do Itajara que me disse uma vez o seguinte: Ele tinha que ganhar de quem o enfrentava, não podia ganhar de quem não estava lá. E ele fazia isso com uma superioridade absurda.

    Eu, modestamente, acho que melhor que o Cacique Negro era difícil ele ser, porque o Cacique Negro fez a mesma coisa, mas com um tal de Falcon Jet.

    São discussões sem fim...

    Adolpho Smith

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  6. Falcon Jet perdeu para Flying Finn (se errei a grafia, peço desculpas). Dois anos mais tarde, quase que perde de novo. O Flying Finn era um cavalo simples, porém lutador. E devia suas atuações muito ao seu jóquei Juvenal Machado da Silva.

    Por estes fatores, não considero Falcon Jet parâmetro para animais inigualáveis. Mas respeito a opinião do Sr. Adolpho Smith.

    Essa discussão de melhor cavalo é igual a de melhor jogador. Cada um tem a sua preferência. Muitos dizem que Pelé e Maradona não teriam vez nos dias atuais... o mesmo vale para os cavalos de antigamente... cada um tem as suas teorias, suas justificativas e admiração...

    Abraços.

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  7. Daniel,

    O que quis dizer com minha postagem não é que Falcon Jet fosse um fenômeno e sim que provavelmente era mais cavalo que o Jabble. Ou seja, que o Cacique Negro teve em seu Derby um adversário mais qualificado que os de Itajara no Derby dele.

    Mas concordo que são comparações muito pessoais.

    Abs.

    Adolpho

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  8. Vejo carreiras de cavalos há quase 40 anos e nesses anos vi muitos craques correrem, lógico que nao tive a oportunidade de ver Farwell, mas ouvi falar e dos que mais ouvi falar seguramente o argentino Gualicho era sempre o mais comentado dentre os turfistas da velha guarda daquela época, por isso acho dificil opinar sobre cavalos antigos e por esse motivo me causou espanto foi essa vitória de Farwell, principalmente numa votaçao, já que foram poucas que o viram correr e os que o viram eram muitos jovens há época.
    Sinceramente no Brasil, na minha opiniao , o melhor que vi correr foi Xin Xun Lin, um cavalo que tem largadas por balizas 14 e 17 tomar a ponta e ganhar com autoridade, apenas Cacique Negro , dos que vi correr tinha condiçoes de fazer isso, mas Xin Xun Lin me parece mais completo, tenho certeza absoluta que se o Xin Xun Lin fosse do Haras Faxina, Malurica, Rosa do Sul, TNT, seria hoje endeusado, mas por ser de um pequeno proprietario, muitos turfistas, mesmo seguros da qualidade do animal, nao gostam de dar esse devido valor, eu aqui nomearia muitos craques que vi correr, Much Better, Quari Bravo, Dono da Raia, Donética, Big Lark,Off The Way, Fenomenal, Cacique Negro, mas Xin Xun Lin foi especial e sua vitória no Pellegrini foi espetacular e categórica.
    Lógico que nao tiro o mérito do Farwell que ganhou 15 em 15, mas nao o vi correr, e Itajara sempre foi uma polemica, por ter uma campanha sem adversários.

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  9. Muito se fala em Itajara não ter encarado uma turma mais forte... mas ele também chegou a bater recorde de distância, não foi? Até aí nada, pois muitos dos recordistas de distâncias são donos de poucas vitórias e campanhas medianas.

    Entretanto, correr da forma que correu, variar estilos da forma que variou e despertar tamanha comoção e levar tanta gente ao jockey club quanto levou, são situações completamente incomuns. E olha que seu jóquei não era nem Juvenal, nem Ricardo, nem Goncinha e nem Lavor.

    Quando surge um animal invicto, sempre é denominado "o novo Itajara"... Quando surge uma égua invicta, costuma-se elogiá-la como "Itajara de saias"...

    Os paulistas nunca irão valorizá-lo tanto quanto os cariocas o valorizavam e o mantém na saudade. Não estendo isto para o bairrismo, mas só um reflexo do hipódromo no qual o turfista se faz mais presente.

    O Julio Ponte é um admirador exemplar desta máquina do passado. Em seu blog, possui os vídeos de suas corridas e cada um pode tirar as suas conclusões. O animal provocava desistência em seus rivais. Dominava páreos faltando mais da metade da pista. Se suas turmas eram fracas, sua superioridade contribuiu e muito para que todos os demais enfraquecessem.

    Abraços.

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  10. Itajara é logico que foi um grande cavalo invicto na pista, só que a qualidade de seus oponentes era bem fraca, não tem um que possa se dizer ou lembrar como grande corredor, um campeão de mídia na verdade.

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  11. uma opinião do SALIERI---------em termos de FEITO,segundo livro q li do SAMIR ABUJAMRA,ADIL FOI ÚNICO-------ÚNICO A VENCER 3,ISSO MESMO-----03 VEZES O GP SÃO PAULO.E dizem q ADIL nos honrou,derrotando o argentino TATÁN,,,,,ARGENTINO--KKKKKKKKKKKKKKKKK---cabeça a cabeça,,,venceu o DERBY com categoria,com o jóquei de cocheira-kkkkkkk--LODEGAR BUENO---POIS RIGONI recusara a montaria,,,,,uma máquina-----------ADIL.20 PROVAS CLÁSSICAS,ÚNICO A VENCER 3 VEZES GP SÃO PAULO

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  12. verdade MAdureira,ITAJARA foi máquina,mas ganhou de ninguem.Dos que eu vi correr,MR NEDAWI,XIN XU LIN,TOP HAT E GIRUÁ me impressionaram

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  13. poxa,vencer 3 vezes o GP SÃO PAULO não é pra qq um,,,,em cima de um argentino ainda,,,,viva o ADIL!!!!!!!!!!

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  14. Emerald Hill tambem não tinha Juvenal,Goncinha. Lembram de seu jockey Loacir Cavalheiro??? Outra coisa que esqueceram BARONIUS. O que o jockey J.Queiroz fez para tirar a vitoria dele no GP Brasil não está no gibi. O ministerio da agricultura, no governo João Figueiredo chegou chegou a tomar medidas quanto a confirmação do pareo (apostadores lesados pois Baronius era o favorito), semanas após a realização do mesmo. O jornal Ultima Hora chegou a publicar uma serie de fotos de todo prejuizo sofrido até a chegada do disco, diferença minima, na giria turfista, diferença de pentelho.O Queiroz só faltou derrubar o gringo Menezes, tudo a favor do Bolino, ambos montavam a parelha do Rosa do Sul.

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  15. ALEXREP.
    El Santarem, cavalo enorme, violento de partida, porém era fregues de Boticão de Ouro. Certa vez, Pintinho e Machadinho conversando,Machadinho fala que na frente dele ninguem corria e Pintinho respondeu que Boticão de Ouro corria onde ele queria e quando os dois se cruzavam, Boticão de Ouro o suplantava logo na partida.

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  16. Falei brincando, era de um conhecido aqui de Cabo Frio

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  17. ALEXREP.
    Se não me engano, Justino, estou certo?

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  18. Boa noite a todos!

    Sobre El Santarem:

    Filiação: Samkio em Malaisia

    Jóquei habitual: José Machado, embora tenha sido montado também por Jorge Ricardo numa derrota incrível no GP Bento Gonçalves, em 1982, para o craque Zirbo (tricampeão da prova, que no ano anterior derrotara o craque Clackson). Wanderlei Gonçalves 9popular pigmeu) yambém pilotou El Santarem, que venceu na raia uma Prova black type, mas foi desclassificado em favor de Apollon (cria e propriedade da Fazenda Mondesir) com G.F.Almeida.

    Treinador: O.M.Fernandes (pai do treinador O.Fernandes Jr.

    Propriedade do Stud Biscal (blusa tricolor).

    Waldir Alves de Souza.

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  19. Essa derrota do El Santarém no Cristal eu assisti ao vivo. O Ricardinho vinha na frente e o Zirbo foi com tudo para cima dele no metros finais. Acontece que colocaram uma imensa ferradura poucos metros antes do disco e o jovem piloto (naquele tempo o Ricardinho era quase um bebê) pensou que a ferradura era o disco. Perdeu por cabeça porque levantou sua montada antes da chegada. Incrível. Não sei bem se a diferença foi exatamente cabeça, mas é assim que eu lembro.

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  20. Eu Idem Aron,Zirbo com Edson Amorim up. corria demais na Areia.Foi em 1982.No ano anterior o Clackson ficou torto atras dele,e no ano seguinte o pupilo do montecatini ganhou tudo em São Paulo.

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  21. Aron, boa noite!

    Foi exatamente como voce relatou. O Ricardinho desarmou o El Santarem devido ao detalhe da ferradura pouco antes do disco. Eu ouvi a transmissão da Prova. Foi realmente uma pena!

    Boa sorte a voce e demais leitores do blog nas carreiras do RJ/SP.

    Waldir Alves.

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  22. Isso mesmo anonimo. Justino era o dono. Um dia eu conto algumas das muitas histórias qu já houvi.

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