16 dezembro 2008

Caballo de copas- II

Na última carreira o Cowboy me pôs dois dólares na mão, e me disse:
- Aposta, aposta em quem quiser, mas aposta.
- Que apostar! Não, toma teu dinheiro.
- Aposta, te digo, aposta em quem seja.
Era um súplica sua, a mão trêmula e fracassada, que me alcançava a grana. Observei os cavalos. Nenhum sobressaia. Queria ter uma revelação. Mas nada. A todos os cavalos os via igual.Um mais barrigudo que o outro, talvez. O de lá, sem rabo; este, com as crinas sobre a testa, como um companheiro que tinha no liceu; outro de enormes caninos e com as patas manchadas; o último ia com as quatro patas atadas; era absurdo que pudesse ganhar com essas meias.
- Não, te digo que vai ser "prata" perdida. Não me ocorre nada. Aposta tú.
- Tu vais apostar. Terá a sorte dos principiantes.
O Cowboy começava a choramingar.
- Deixe-me ver o Programa... Doze cavalos. "Terremoto". Este.
- Qual?
- Este, o sete, "Terremoto".
Apostei no sete, porque seu nome lembrava minha terra, país de sacolejos e fugas apavoradas na madrugada, e porque o jóquei se chamava Bravo, José Bravo. O Cowboy estudou sua bíblia e me olhou desconsolado. E por aquelas razões, e por nenhuma outra, "Terremoto" ganhou. Pagou trinta e três dólares de vencedor. O Cowboy não demonstrou nenhuma emoção. Esperava meu triunfo. Não quis receber nem um centavo, exceto os dois dólares iniciais da aposta, que considerou um empréstimo.

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